Wednesday, November 29, 2006

Ao porvir

Chega-me aos ouvidos, com bom atraso como de costume, mais uma notícia sobre o aumento dos membros da família. Tal fato me é muito bem aceito, obviamente. Após a bobradinha masculina por parte do Marny e da Joice, da feminina pelo Edu e Silvana e da bela contribuição do K-tú e da Sabrina temos agora mais um rebento no horizonte por parte da Quenia e do nosso fiel leitor-colaborador-assistente-sócio Negão.

Note-se bem. Sobre o bebê já podemos falar algo. O sexo, embora ainda desconhecido, via de regra, é algo que o infante vai escolher quando crescer. As cores preferidas serão, em ordem, azul, branca e preta e com especial ênfase da primeira sobre as demais. O time a ser escolhido será, por certo, a máquina dos pampas. De resto, nada mais podemos falar sem excessivo tom especulativo.

Como padrinho do enlace entre os novos futuros pais, escolhido como terceiro reserva aos 44 do segundo tempo, gostaria de reforçar meus parabéns. Do ponto de vista documental, porém, a nova geração é dúbia. Se por um lado teremos garantia infinita de novas histórias sobre fatos ocorridos na família por outro teremos mais trabalho para escrever o próximo compêndio da mesma, o "De Remo ao Guaíba" ou "Do Guaíba a Curitiba" ou o que for.

Para encerrar deixo uma questão para ser respondida pelo co-autor-sócio-âncora-mor-chefe Sancho e por sua esposa Ana. Quem dará o próximo passo no aumento da prole familiar? Não vale se abster.

Friday, November 24, 2006

Não havia nenhuma necessidade...

Que vida de estudante é uma quebradeira todo mundo sabe. Que nota baixa faz parte do sistema auto-regulador desta mesma vida sabem alguns. E que a tal vida também é permeada de baixaria poucos sabem. Acrescentando algumas escorregadas noturnas temos o grande lema dos alunos de engenharia (pra ser lido em forma de música): "Mulher feia, nota baixa, caçachada e baixaria... engenharia, engenharia". Mas eu não fiz engenharia, e nos quesitos acima a diferença foi... nenhuma.
Pois numa noite de fim de semestre (de dinheiro, de ano e de paciência) eu e um grande camarada fomos extravazar as noites de trabalho árduo num bar de nome X-picanha, pejorativamente apelidado de X-piranha. O local tinha cerva barata, algumas pessoas que lhe endossavam o apelido, e nós. Impossível dizer o quanto de cerveja ingerimos naquela noite singular, mas lá pelas três da manhã lembrei que tinha que parar afinal de contas queria continuar festejando o final dos semestres subsequentes.
Como bom estudante (sinônimo de quebrado) tinha que voltar de ônibus, o "madrugadão". Era um coletivo especial que percorria todos os bairros periféricos da cidade das quatro às cinco da manhã. Se perdesse ele... só as oito. Mas não o perdi. Alguma combinação astral conjugou uma força que me retirou do bar e me pôs no bendito veículo, embora eu àquela altura quisesse servir de pilha do universo num mosteiro tibetano.
Uma vez dentro do "madrugadão" e bêbado feito um porco fiz o mais óbvio e menos sensato: dormi feito um porco... bêbado. Acordei com o simpático cobrador às cinco horas da manhã sutilmente me enxotando porta a fora. Quando dei por mim, estava no terminal urbano no centro da cidade, que àquela hora era lugar de mendigos, traficantes e baixo meretrício. Sem contar que eu estava muito, mas muito mais distante de casa de quando estava no bar. Assim, às margens do esgoto central eu sentei e (quase) chorei.
Embora o desespero fosse grande consegui, após uns dez minutos, pensar em pegar um taxi e finalmente encontrar o repouso merecido, mas as cinco da matina a coisa é braba. Um mendigo deixou cair umas moedas e quando eu as devolvi pra ele o sujeito respondeu em bom e nítido bebunzês: "brigaxi", sem pestanejar respondi: "dinaxi". Ora essa, eu sabia aquele idioma! Eis que então, o que vejo... sim era mesmo um taxi de verdade e se aproximando. Mais que depressa gritei como um desesperado o chamando. Imaginem, cinco da manhã de sábado, num lugar com alta incidência da assaltos um sujeito nitidamente bêbado ao lado de um mendigo gritando sofregamente. Pois então, ele realmete acelerou e se mandou.
Mas e sorte voltou a sorrir e quando eu já estava prestes a aceitar um pedaço do cobertor do Zé (este é o nome do mendigo). Outro taxi se avizinhou e pude, com toda discrição, chamá-lo e ir embora. No taxi, dormi. Quando estava chegando ao meu bairro dei as últimas coordenadas e... dormi. Depois, já em frente de casa só restava pagar e... ir dormir. Porém... lembre-se sempre que estudante é, por natureza, quebrado e eu obviamente não era uma excessão. Pois só tinha 2 mangos na carteira.
A cara que o motorista fez é indescritível e indecifrável mas tinha certeza de que ele ia me jogar pela janela. Ele porém ponderou e disse que aceitava cheque. O que era outro problema pois embora eu tivesse folhas de cheque comigo, não conseguia nem por decreto escrever. Quando ele se prontificou a fazer isso eu aceitei, mas na minha típica arrogância deselegante o alertei: "olha aqui, eu vou conferir hem... escrever tá complicado mas ler eu consigo".
Ele preencheu, eu conferi, assinei qualquer asneira e antes de ir ainda soltei: "bom, se não tiver fundo não tem problema, você sabe onde eu moro hehe". No fim o cheque tinha fundo e eu, como de hábito, ressaca. Realmente, não havia nenhuma necessidade.

Tuesday, November 21, 2006

do Guaíba à Curitiba

Do Reno ao Guaíba é um livro que conta a história de Adam Hoff, imigrante alemão que veio parar no Brasil, no Rio Grande do Sul. Segundo a história real, o objetivo dele era chegar na Austrália, mas, como bom alemão, contrariando o que diziam seus assessores, ele acabou atracando na Barra do Ribeiro. Reza a lenda ainda que o velho Adam discutiu com a tripulação por algum tempo, acreditando estar realmente na Austrália, até se convencer que estava no Brasil, quando os flanelinhas do porto deram “um limpa” no interior de sua caravela.

O livro relata ainda alguns descendentes do Sr. Adam chegando em nosso tatatatatatatatataravô Jacob.

A questão é que estão propondo que eu (Sancho) e nosso insigne superintendente-editor-revisor-relator-chefe elaboremos de forma sucinta as novas gerações da família hoff, ou, pelo menos da parte de nossos ascendentes.

Já dei o ponta-pé inicial, sugerindo o título desta bostagem para que iniciemos os trabalhos. Aguardemos os demais colaboradores que se proponham a compartilhar conosco nesta árdua tarefa.

Monday, November 20, 2006

Campanha

A recente campanha governamental fora moldada no jargão: "O melhor do Brasil é o brasileiro", e contava histórioas (estórias?) de distintos e desconhecidos tupiniquins que conseguiram reverter o quadro de miséria e falta de oportunidades e "venceram" na vida. De todas essas histórias que eu li uma conclusão me parece óbvia. Esses afortunados são grandes sortudos, isso sim. Nada de especial acontece em suas trajetórias para o sucesso além de sorte, ou seja não é necessário competência... novidade.

Então, nesse termos, acho que a campanha deve ser mudada. Devemos parabenizar quem realmente tem competência, quem sabe o que faz e faz bem. Por isso, encorajo a mudança do slogan para: "O melhor do Brasil é o MENSALEIRO". É claro, esses caras devem ser aplaudidos no fim das contas (e que contas). Eles roubam o país há, pelo menos, 10 anos e estão de volta ao congresso para continuar o trabalho árduo. Eles sim são competentes.

Tudo bem que tiveram a sorte de chegar até lá, mas roubar tão bem, por tanto tempo, serem desmascarados e ainda voltarem (com suas renovadas faces amadeiradas) nos braços do povo e com a mão em seus (meus, nossos) bolsos não é pra qualquer sortudo não. É pra gente muito competente sim!

Essa nova propaganda certamente servirá de norte para o nosso povo, que passará então a trabalhar com rigor germânico e não vai mais esperar pela sorte. Imaginem os intervalos das novelas da globo (ou, como vivem os ricos) sendo permeados daquela sincera voz de locutor de propaganda nos lembrando de que "O melhor do Brasil é o MENSALEIRO".

Friday, November 17, 2006

tragédia e comédia

Não é fácil descrever o que segue. Foi um tanto quanto traumático: Sancho, Nica e o “creoulinho” impedidos de seguir viagem. O apelido “creoulinho” não se refere a qualquer conotação racista. Nada além de um codinome que o tio Nelson colocou no carro preto da tia Nica.

Partimos de Dourados/MS rumo a Jataí/GO. Por causa de um manifesto de nossos grandes amigos, os adorados indígenas, fomos obrigados a utilizar uma rota alternativa, onde o risco era um manifesto dos companheiros do MST.

Tudo permanecia nos conformes. Já estávamos nos aproximando da capital Campo Grande sem maiores problemas. Após atravessarmos uma cidadezinha, optei por realizar uma manobra ousada: ultrapassar um caminhão em faixa contínua. Percebi um veículo vindo ao longe, bem longe. “Tia, acho que dá!”. Engatei uma segunda e lá fui eu. Ultrapassei tranqüilamente, mas o veículo que vinha era uma viatura caracterizada da Polícia Rodoviária Militar. Veio o sinal de luz junto com a ordem para parar. Aquela “sirenada” única: rrrrrruuuuuéeeeóoooon (onomatopéia).

Parei no acostamento. Um sujeito num veículo que trafegava na minha frente e havia feito a mesma asneira também parou. Como a viatura havia passado por nós e dado a volta, eles abordaram o primeiro trouxa que estava parado: Eu.

“Ei filho, não viu a faixa contínua?” Tentei argumentar, argüindo em meu favor uma excludente de ilicitude. Aleguei que cometi a infração por estado de necessidade, pois o caminhão estava enchendo meus olhos, pulmões, ouvidos e demais orifícios de monóxido de carbono. Pensei ainda em utilizar a tia Nica como subterfúgio, dizendo ao guardinha que ela necessitava de tratamento médico urgente. Percebi que a autoridade policial não iria cair nessa quando visse o cigarrão na mão da tia.

“O que você faz da vida, filho?” Advogado. A classe está tão queimada, que imediatamente o policial solicitou gentilmente que todos saíssem do veículo e deu uma geral em toda a bagagem. No fim, lavrou o auto de infração e me deu essa pequena recordação. Nem tentei viabilizar um acerto extra-infracional.

Mas esta recordação virou fichinha com o que estaria por vir. Imensamente feliz por ter de pegar a rota alternativa por conta dos índios, e ainda ter sido educativamente multado, a maior tragédia estava por vir.

Após passar pelo município de Chapadão do Sul, seguindo em direção à Cassilândia, um pouco antes desta última existe uma estrada de areia que nos faz economizar cerca de 70 km até Jataí. Percebi que havia chovido bastante nas últimas horas. Contudo, encorajado pela tia Nica, resolvemos arriscar pelos famosos “doze quilômetros”.

No início, bastante barro. O valente “creoulinho” foi encarando os obstáculos bravamente. Após uns 2 km, nos deparamos com um golzinho que nos abordou. “Cuidem, porque a estrada tem bastante poças”. “Siga ‘pelazesquerda’” disse um gordinho que aparentava ser menos letrado.

Ora, se um golzinho conseguiu, conseguiremos também! Mas e a parte de seguir pela esquerda? Esquerda de quem vai ou de quem vem? E o mais importante: será que o tal sujeito menos letrado sabe o que é esquerda e o que é direita? Eu não tive dúvidas. Na próxima poça (maior que muito açude do nordeste) eu fechei os olhos e segui pela esquerda. Tchibum!

O carro encavalou de uma forma jamais presenciada. O barulho da água entrando era aterrorizante. O motor, ainda ligado, não conseguia tracionar para frente ou para trás. Tia Nica desceu para tentar empurrar para trás. Quando pisou, não achou o chão. Atolou de barro até o joelho. Água entrando pela frente, por baixo, por tudo que é lado. Quando vi, minha carteira estava boiando. Desci também para tentar empurrar com todo o meu vigor físico. O cérebro nestas horas fica travado. Num momento de rara sabedoria, optamos por sair da poça e avaliar a situação de fora.

Após uns 10 minutos, quando finalmente conseguimos desatolar nossas canelas, conseguimos ter uma visão panorâmica da situação. O “creoulinho” estava atolado com a cara na lama. Lembrava um besouro conhecido como “rola-bosta” chafurdando na merda. Mas não havia graça nenhuma. O desespero já tomava conta. Estávamos atolados num lugar isolado onde poucos trouxas se aventurariam a passar, sem qualquer sinal de celular.

Optamos por seguir à pé até o município de Aporé, há uns 8 km. Andamos alguns muitos metros quando abordamos um caminhão boiadeiro. O sujeito até se dispôs a rebocar o veículo, mas não tinha corda ou cabo. “Esses boiadeiros são uns chifrudos” disse a tia. Andamos mais um pouco e solicitamos ajuda a um camarada num caminhão tanque. Esse, com sotaque nordestino, se prontificou a tirar o carro nem que fosse com as mãos. Resolvi voltar com o sujeito ao local do sinistro, enquanto a tia seguiu à pé até Aporé.

Subi na caçamba do caminhão do nosso amigo paraíba, e ali fui, acompanhado de dois cilindros de gás tóxico. Chegamos e. rapidamente, com sua destreza singular, o amigo amarrou a corda e rebocou o carro da lama. Gentilmente ele me disse para atravessar as próximas duas poças que ele ficaria para desatolar se necessário. Obviamente foi necessário. Novamente ele me desatolou. Desta vez o motor do “creoulinho” parou de vez. O paraíba me deixou num ponto seco da estrada e seguiu seu destino.

Simultaneamente, tia Nica havia abordado dois garotos que estavam passeando num jumento. Explicou a situação aos jovens que prontamente foram buscar ajuda. Vem então um camarada num CBT 1060 (lê-se “milissessenta”) bastante robusto.

Eu, junto ao veículo, numa rara parte seca da estrada, que poderia, sem exagero, ser chamada de ilha, abri o capô apenas para ver se o motor secava um pouco, já que meus conhecimentos de mecânica se restringem a bicicletas sem as complexas marchas. Nesse momento ouvi o barulho do trator ao longe. Fixei o olhar e vi que a tia Nica estava de carona, pendurada no trator, com suas madeixas esvoaçantes. Pensei positivo. Achei que estavamos revertendo a situação. Achar é a mãe de todos os erros.

O sujeito robusto do “milissessenta” não tinha muito cérebro. A idade mental do camarada era, sem dúvida, menor do que a dos garotos que estavam no jumento. Talvez ele fosse o próprio jumento. Engatamos a corrente do trator no carro. O sujeito deu partida, engatou uma terceira e partiu. Provavelmente sua memória (de PC-XT) já tinha se autoformatado, e ele havia se esquecido que estava rebocando um carro. Buzinei, dei sinal de luz. Pus o braço pra fora do carro e acenei com um boné (como nosso tio Batuta fez numa memorável situação que será contada aqui). Enfim, eu e a tia Nica fomos comendo lama até chegar no asfalto.

Lá chegando, o pulcro tratorista microcéfalo nos deixou próximo a uma oficina. Um lugar desses que, se precisar apertar uma porca, o mecânico precisa ir no vizinho pegar uma chave emprestada. O sujeito olhou, fez cara de quem entendia algo, e disse que não poderia nos ajudar. Novamente meu desespero foi contido pela tia Nica, que se lembrou que o carro tinha seguro.

Acionado o seguro, veio o reboque para nos levar até Jataí. 150 km de drama. Auto-estima pra baixo dos calcanhares. Barro até o último fio de cabelo. As meias já estavam no lixo faz tempo. Minha camiseta branca estava marrom. Um maldito vento gelado entrava pelas frestas do caminhão reboque. Para piorar, o motorista não parava de encher o saco com um desses rádios de caminhão. O sujeito estava se sentindo numa daquelas viaturas da polícia de Los Angeles.

Pois bem, finalmente chegamos em Jataí. Nosso semblante era análogo ao de quem acabara de cuidar do ultraleve do XOTKZ após uma boa noitada. Estávamos ávidos por um banho, na frustrada tentativa de recuperar um pouco da dignidade. Mas nem um jato de posto com solupã era capaz de limpar todo o barro que carregávamos.

Sofremos com algumas baixas: Minha camiseta deu Perda Total. O “creoulinho” precisou de um transplante, e ganhou motor novo. A tia Nica ficou com os calcanhar em frangalhos. E, por um bom tempo, aquela estrada desapareceu de nosso mapa.

Após tantos desastres, lembrei-me de uma teoria do interior de Goiás, dizendo que havia uma cabeça de burro nos acompanhando na viagem. “Claro... e estava sobre seu pescoço” disse Negão. Nem me ofendi. Pelo menos temos mais uma pérola para relatar.

Monday, November 06, 2006

Livre desconhecido

Dia desses veio um cara que ficou sabendo do blog falar comigo. A gente discordou em tudo. Ele disse que não concordava com nenhuma bostagem minha e etc. Bom, primeiramente nenhuma bostagem minha é pra ter a anuência de alguém. Se fosse assim eu ficava falando com um cachorro. Depois ele disse achar o blog um saco e coisa e tal. Então vai uma dica, se não gosta não veja. Ou ainda melhor, crie um blog e encha de asneiras.
Mas o tal, cujo nome me é desconhecido, irritou-se quando eu falei da bossa nova. Ele dizendo que esse movimento é revolucionário na música e também que é de vanguarda, e eu concordando com tudo mas colocando os verbos no pretérito. Aliás acho que o nome de tal movimento, ele gosta de chamar assim, deve ser bossa velha. Ou então, a julgar pelas últimas expressões artísticas de tal vertente, bosta nova.
Paramos por aí. Pra falar a verdade o cara também falou mal do presidente, do presidente anterior, da oposição, da votação, do eleitorado, da ciência, da caros amigos, do pelé, do carnaval e por aí vai. Aliás ele foi tão chato que quase o chamei pra escrever aqui no blog também. Mas acho que já somos, com um que de orgulho, chatos o suficiente.