Monday, October 30, 2006

Antena

Passada a euforia da época eleitoral e todo o azáfama que a mesma enseja, voltemo-nos a questões menos capciosas. Outro dia li, sei lá aonde, uma crônica sobre a proliferação de faculdades privadas de péssima qualidade em São Paulo. A coisa era tanta que o autor sugeria que o ingressante em umas dessas faculdades deveria, ao invés de gritar: "Entrei, entrei na faculdade!!" , bradar: "Sentei, sentei na privada!!". O negócio realmente estava ruim. O artigo ainda citava faculdades que funcionavam em uma sala de cinema após a última seção. Aula na privada e em espaço destinado a filmes, só pode dar m...
Depois disso, vi outra reportagem sobre um levantamento que descobriu que os surfistas se comunicam em um dialeto próprio de mais ou menos 500 palavras. A propósito, o número mínimo de verbetes necessário para a formação de uma língua rudimentar é 2000, isto é, quatro vezes mais do que o usado pela galera parafinada.
Ainda no surf, vi uma propaganda de uma etapa do campeonato mundial em Santa Catarina. Nela apareciam várias atrações como shows e desfiles. O interessante é que na parte do desfile não é possível ver um rosto sequer. Tudo o que aparece é bunda. Uma após a outra num andar apoteótico. Lembrei da reportagem e imaginei as concorrentes na frente da TV falando: "Pai, pai, olha lá... aquela é a minha bunda, olha! Tio, vem ver a propaganda em que sai minha bunda".
E fica a questão: o que aconteceria se uma daquelas bundas sentasse numa daquelas privadas? Melhor deixar a imaginação de lado.

Tuesday, October 10, 2006

frases mal ditas

Lula disse que "todo candidato gostaria de vencer no primeiro turno. Mas nem sempre a sabedoria popular permite que isso ocorra". Alguns Alckimistas (!) oportunos já aproveitaram para dizer que o presidente disse que "a falta de sabedoria popula não permite que o candidato ganhe em primeiro turno". Esse tipo abjeto de distorção feito pelos tais Alckmistas é típico de quem duvida e até subestima a sabedoria popular.

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Lula, após o debate de domingo, disse que "Alckmin, a quem chamou de 'cidadão do samba de uma nota só', se comportou como um 'delegado de porta de cadeia'". Quanto ao uso pejorativo da expressão "samba de uma nota só" eu relevo, afinal o assunto ta gasto. E eu gosto da música. No que refere ao "delegado de porta de cadeia", o presidente deve ter ganhado o apoio de muitos delegados.
Tudo bem que ele não goste de delegados, e até tenha solicitado ao ministro da justiça o afastamento de um delegado da policia federal que comandava algumas investigações. Mas ele deveria respeitar mais um funcionário público que, ao contrario dele, precisou estudar e fez por merecer para chegar onde chegou.

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Lula vai perder. Se não perder, vai sofrer o "impeachment". Tomara que o guru que profetizou isso tenha razão. O sacrifício da seleção na copa, enfim, valerá a pena.

Sunday, October 08, 2006

Uma nota só

Bom, segue nessa postagem um texto de Amir Sader (no fim da mensagem há explicações sobre ele). Resolvi colocá-la porque ando com preguiça de escrever. Da minha parte é a última coisa que "bosto" sobre essas eleições. Além de preguiçoso ando de saco cheio de pensar em política. Dou por encerrada minha participação e saio pela tangente. O texto reflete minha opinião, e como era de se esperar, é argumentativo. Ele só não reflete meu ceticismo de que no fim, dê no que der, acaba quase tudo na M...

Emir Sader: O que está em jogo.

O que está em jogo no segundo turno não é apenas se a Petrobrás vai ser privatizada - como afirma o assessor de Alckmin, Mendonça de Barros à revista Exame - e, com ela, o Banco do Brasil, a Caixa Economica Federal, a Eletrobrás.

O que está em jogo no segundo turno não é apenas se os movimentos sociais voltarão a ser criminalizados e reprimidos pelo governo federal.

O que está em jogo no segundo turno não é apenas se o Brasil seguirá privilegiando sua política externa de alianças com a Argentina, a Bolívia, a Venezuela, o Uruguai, Cuba, assim como os países do Sul do mundo, ao invés da subordinação à política dos EUA.

O que está em jogo no segundo turno não é apenas se retornará a política de privataria na educação.

O que está em jogo no segundo turno não é apenas se a política cultural será centrada no financiamento privado.

O que está em jogo no segundo turno não é apenas se teremos menos ou mais empregos precários, menos ou mais empregos com carteira de trabalho.

O que está em jogo no segundo turno não é apenas se haverá mais ou menos investimentos públicos em áreas como energia, comunicações, rodovias, saneamento básico, educação, saúde, cultura.
O que está em jogo no segundo turno não é apenas se seguiremos diminuindo as desigualdades no Brasil mediante políticas sociais redistributivas -micro-crédito, aumento do poder aquisitivo real do salário mínimo, diminuiçãodo preço dos produtos da cesta básica, bolsa-família, eletrificação rural, entre outros - ou se voltaremos às políticas tucano-pefelistas do governo FHC.

O que está em jogo no segundo turno é tudo isso - o que, por si só, é de uma enorme proporção e já faz diferença entre os dois candidatos. O que está sobretudo em jogo nos segundo turno é a inserção internacional do Brasil, com conseqüências diretas para o destino futuro do país.

Com Lula se manterá a política que privilegia a integração regional e as alianças Sul/Sul, que se opõem à Alca em favor do Mercosul. Com Alckmin se privilegiariam as políticas de livre comércio: Alca, assinatura de Tratado de Livre Comércio com os EUA, isolamento da Alba, debilitamento do Mercosul, da Comunidade Sul-Americana, das alianças com a África do Sul e a Índia, o Grupo dos 20.

O que está em jogo no segundo turno é a definição sobre se o Brasil vai subordinar seu futuro com políticas de livre comércio ou se o fará em processos de integração regional. Isso faz uma diferença fundamental para o futuro do Brasil e da América Latina. Adotar o livre comércio é abrir definitivamente a economia do país para os grandes monopólios internacionais - norte-americanos em particular -, é renunciar a definir qualquer forma de regulamentação interna- de meio ambiente, de moeda, de política de cotas, etc. É condenar o Brasil definitivamente à centralidade das políticas de mercado, com a perpetuação das desigualdades que fazem do nosso o país mais injusto do mundo.

O que está em jogo no segundo turno então é se teremos um país menos injusto ou mais injusto, se teremos um país mais soberano ou mais subordinado, se teremos um país mais democrático ou menos democrático, se teremos um país ou se nos tornaremos definitivamente em um mercado especulativo e nos consolidaremos como um país conservador dirigido pelas elites oligárquicas (como um mistura de Daslu mais Opus Dei). Se seremos um país, uma sociedade, uma nação - democrático e soberanos - ou se seremos reduzidos a uma bolsa de valores, a um shopping center cercado de miséria por todos os lados.
Tudo isto está em jogo no segundo turno. Diante disso ninguém pode ser neutro, ninguém pode ser eqüidistante, ninguém pode ser indiferente.


Emir Sader nasceu em São Paulo (1943) em família de origem libanesa. É graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, mestre em filosofia política e doutor em ciência política por essa mesma instituição. Nessa mesma universidade, trabalhou ainda como professor, inicialmente de filosofia e posteriormente de ciência política. Trabalhou também como pesquisador do Centro de Estudos Sócio Econômicos da Universidade do Chile e foi professor de Política na Unicamp. Atualmente, é professor aposentado da Universidade de São Paulo e dirige o Laboratório de Políticas Públicas (LPP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde é professor de sociologia. É autor de "A Vingança da História", entre outros livros.

Thursday, October 05, 2006

entre aspas

Certa vez que li que os políticos tinham imensa dificuldade em explicar o crescimento vertiginoso de seus respectivos patrimônios. Á calhar veio um simpático ranking da Radiobrás, onde mostra o patrimônio dos Governadores eleitos em 1º turno:

Governador eleito Estado Patrimônio

Blairo Maggi (PPS)

Mato Grosso

R$ 33,4 milhões

Ivo Cassol (PPS)

Rondônia

R$ 15,4 milhões

Teotônio Vilela Filho (PSDB)

Alagoas

R$ 14,5 milhões

Eduardo Braga (PMDB)

Amazonas

R$ 4,2 milhões

André Puccinelli (PMDB)

Mato Grosso do Sul

R$ 2,4 milhões

Paulo Hartung (PMDB)

Espírito Santo

R$ 1,3 milhão

Marcelo Miranda (PMDB)

Tocantins

R$ 1,3 milhão

José Serra (PSDB)

São Paulo

R$ 872,9 mil

Aécio Neves (PSDB)

Minas Gerais

R$ 831,8 mil

Ottomar Pinto (PSDB)

Roraima

R$ 709,1 mil

Jaques Wagner (PT)

Bahia

R$ 690 mil

José Roberto Arruda (PFL)

Distrito Federal

R$ 598,1 mil

Cid Gomes (PSB)

Ceará

R$ 510 mil

Binho Marques (PT)

Acre

R$ 329,4 mil

Wellington Dias (PT)

Piauí

R$ 272,6 mil

Marcelo Déda (PT)

Sergipe

R$ 248 mil

Waldez Góes (PDT)

Amapá

R$ 13,5 mil

Destaque para Ivo Cassol, governador de Roubônia. Vamos ver quem integra a lista no 2º turno.


muita imprecisão

Talvez o PSDB não mereça a presidência da república. A incompetência do partido demonstra que os militantes não sabem se portar como oposição. Por muito menos Collor já havia caído. Sou obrigado a crer que no mar do PT “ainda há alforria”.

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Muito melhor do que o utópico socialismo é o anarquismo. Está sendo arquitetado um movimento anarquista. Nada de patrão, nada de latifúndio. A máxima de que “toda propriedade é um roubo” acompanhada do símbolo anarquista grafitada em uma loja maçônica demonstra os sinais discretos de tal movimento. Muitos aderiram. As fábricas serão livres para produzir. A terra estará disponível para quem quiser plantar e colher. É o fim do poder totalitário. O povo oprimido será o poder.

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Não posso deixar de me render à belíssima campanha do tricolor gaúcho. Saindo das profundezas da série “B” surge na elite em plena ascensão direta. O curintia vai em sentido oposto. Mas, com todo o respeito, aquele encoxamento coletivo público (a tal avalanche tricolor) deveria ser exibida com mais moderação. O Ministério Público tem restringido a veiculação de relações homossexuais nos meios televisivos.

Wednesday, October 04, 2006

Um pouco de imprecisão.

Jorge Luís Borges dizia que democracia é um erro estatístico. Teria ele razão? Nenhuma votação e toda argumentação me diz que não.

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E reformulando Churchill: o socialismo é a pior forma de governo; à exceção de todas as outras.

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Gostaria de parabenizar o colaborador-editor-âncora-mor Sancho pela excelente memória ao descrever sensações que um bom corinthiano não sente a tempos, como empate fora de casa e expectativa de vitória. E por lembrar-mos de futebol e de analogias, mais uma: o grêmio em segundo no campeonato é como uma tartaruga em cima de um poste. Ninguém se sabe como chegou lá, o que vai fazer e como vai sair.

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Como geralmente nos expressamos melhor quando não queremos ser entendidos, resolvi fazer um poeminha infantil a fim de melhor ressaltar o que não precisa ser ressaltado


não gosto da PeTiscaria
tampouco sou PSDBesta
mas num mar ainda há alforria
e n'outro água funesta

sabeis pois que em boa pescaria
há que use de isca canhestra
murmureis assim certa ave maria
contra pauta da virtude burlesca

é farto o fruto da pradaria
mas só sobra tiragem modesta
do povo o trabalho que não pia
enquanto o que ganha tira a sesta

e nessa toada já sem calmaria
de ascensão da parte que não contesta
ponha-se fim à filosofia
mas antes se termine e festa

...e mais um domingo...

Domingos são quase sempre iguais. Dia de folga, acordar tarde, assistir um bom jogo na TV, comer uma pizza e ir dormir. Ontem, porém, dia 01/10 foi modorrento. Tracei um perfil estatístico objetivando um melhor horário para justificar meu voto. Isso mesmo. Morram de inveja. Eu não precisei votar, apenas justificar.

Obviamente eu fracassei. Nessa eleição, onde teríamos que escolher 5 candidatos, seria impossível não ter fila. Foi um aprendizado observar os “fiscais de partido” avaliarem a atuação dos mesários. Estes, aliás, até que estavam conformados com o árduo múnus que lhes fora imputado pela Justiça Eleitoral.

Em casa, inconformado com a ausência do jogo do brasileirão na TV, rodei alguns canais e, vez ou outra, acabava cochilando. Num determinado momento, acordei com o apresentador Evaristo Costa do Jornal Hoje dando as últimas notícias das eleições em espanhol. Ainda meio atordoado, fixei os olhos e percebi que ele estava... loiro? Não trajava seu habitual terno e estava acompanhado de alguns jovens... Quando realmente acordei, vi que não era o dito âncora. Tratava-se de um conjunto musical mexicano chamado RBD. Três garotas e três rapazes. Uma espécie de KLB misturado com SNZ. Tragédia da Gol, eleições e show do RBD é demais para um só final de semana.

Aborrecido, fui procurar outro canal. Na Globo, o infausto Faustão era sempre interrompido por Alexandre Garcia para dar os últimos resultados das eleições. Senti que a diversão estaria por vir. Comemorava como se fosse um gol do curintia cada vez que o PT perdia em primeiro turno. Sentia falha na zaga quando o mesmo PT elegia um governador ou deputado federal. Ao contrário do editor-superintendente-chefe, que se manifestou claramente contra o PSDB, eu torço exatamente contra o PT. O segundo turno para presidente teve sabor de empate com gols, fora de casa e com dois jogadores a menos em campo. E a sensação é que agora a partida de volta é em casa.

Não é fácil escolher em quem votar. Melhor escolher em quem não votar. Como devo justificar novamente no segundo turno, que vença o melhor, digo, o menos pior.

Monday, October 02, 2006

Um pouco de precisão.

14 anos. Esse é, no máximo, o tempo de memória do eleitor brasileiro. Precisamente há 14 anos Fernando Collor de Melo foi derrubado do posto máximo do funcionalismo público brasileiro com provas concretas. Agora porém, volta nos braços do povo. Povo aliás que que votou também no Maluf, em vários indiciados nos escândalos atuais de corrupção e em deputados que já abriram mão do cargo para escapar da perda do mandato.

Votamos, não resisto à concordância por silepse (puramente gramatical, acreditem), também no Clodovil. Aquele mesmo, que quando entrevistado pelo jornal nacional hoje ficou sem palavras quando perguntado sobre quais seriam suas propostas como deputado. E não era de emoção, visto que o candidato nunca demostrou tais humanidades.

Esquecemos também da compra de votos realizada por Fernando Henrique quando da aprovação do projeto de reeleição. Mais do que isso, esquecemos que o governo, na época, não permitiu a instauração de uma CPI. Por fim temos o que merecemos. Não sabemos ler, não sabemos pesquisar, não somos politizados e, ao que parece, os mais esclarecidos de nós formam opinião lendo e-mails (sabe-se lá de que procedência). A prova disso está nos que votamos, ou no que votamos.

Espero que no segundo turno lembremos que o maior problema do país é a distribuição de renda! Lembremos também dos artigos da Marilene Felinto sobre a farça do PSDB no governo de São Paulo (estado e cidade) e não nos esqueçamos da política neo-liberal que entrega o país a preço bom, só que pra poucos. Aliás, espero que antes de votarmos no segundo turno, cada um de nós leia, se soubermos é claro, um, apenas um exemplar da Carta Capital de qualquer edição. Qualquer uma, tanto faz!

Já que precisão geralmente implica número, aqui vai um: o Brasil, por votar como vota, vai dar certo sim! Em, no mímimo, 170 milhões de anos!