Friday, June 22, 2007

Tuta que o pariu!

A libertadores teve um fim trágico. Pelo menos para a metade do corpo editorial do CANHOTO E SINISTRO e pra quase cem por cento dos leitores. A maneira como eu acompanhei a escalada e a derrocada gremista ao longo da competição também foi mais ou menos trágica. Ei-la.


Grêmio X São Paulo: Saí de casa procurando algum lugar para ver o jogo. O que melhor contabilizava a relação higiene/espelunca foi o escolhido. Entrei circunspecto, sentei-me em um bom lugar e pus-me a observar a peleja. Na medida em que o jogo evoluia, com lances favoráveis para os dois lados cheguei a uma conclusão desesperadora- todos os garçons e o dono do muquifo eram são paulinos. Eu dissimulava e continha qualquer reação de torcedor. Quando saiu o gol, soltei um grito involuntário, mas contornei: "Gooooooooolllll....eiro bem do vagabundo esse Rogério! Como me deixa passar essa!" Foi até pior, o Seni é unanimidade entre os torcedores. Já fui tomado por um torcedor estranho. Depois me contive mais, mas no final xingava o Grêmio com um sorriso indisfarçável. Fui bem atendido em geral, mas tinha certeza que não havia convencido muito.


Grêmio X Santos: Voltei ao mesmo bar. Quando os garçons indagaram disse prontamente: "já que esse timinho tirou o São Paulo, vou torcer pro Santos!" Pareceu colar. O problema é que fui assistir com um amigo, santista. No decorrer do jogo enfrentei um dilema. Tirar sarro do meu amigo ou conservar a máscara garantindo um boteco onde a cerva é gelada e barata. Resisti e segurei as comemorações. Obviamente saindo do bar meu amigo foi sacrificado.


Grêmio X (Meia) Boca (jogo 1): Mesmo bar! Mas dessa vez não tinha mais um bom motivo para assistir o jogo. Quando indagado, simplesmente disse que gostava de futebol. Quando saiu o primeiro, e roubado, gol não deu mais pra segurar: "Puta merda! Juíz filho da p..." A máscara havia caído. A partir daí foi um desastre, garçons ignorando meus pedidos, a cerva mais quente, o pior petisco e diversas "alfinetadas". No fim do jogo um deles solta: "Não sei como um timeco desses chega na final!" Sem titubear revido: "É que só pegou time ruim antes!" Era guerra declarada. O clima esquentou. Outro revida: "O Grêmio só joga pra perder", e eu "pois é, entraram em campo achando que estavam contra o São Paulo". Entretanto eles tinham 3 x 0 a mais que eu para argumentar e acabei sendo persuadido a sair do recinto quieto.


Grêmio X (Meia) Boca (jogo 2): Não voltei ao mesmo bar, nem tinha como. Fui a outro. Tanto pior. O local parecia um reduto de argentinos. Todos bêbados, cantando o grito de guerra do (Meia) Boca a plenos pulmões. Foi o inferno. Volta e meia, um desligava a TV dizendo: "Não precisa mais nem ver, não precisa mais nem ver". Desisti no intervalo, e fui matar uma esfirra em um boteco mais tranquilo. A esfirra desceu atravessada, por motivos mais do que óbvios.


Agora mais calmo, acho sinceramente que o Grêmio chegou até longe demais. Não há como querer ganhar nada com o Tuta no ataque. Proponho a troca do Tuta por pares de chuteira, quando muito. O difícil é achar quem queira perder as chuteiras.

Friday, June 15, 2007

Chapadão do Céu a bela cidade goiana cada vez mais longe de Goiás...

Recentemente bostei aqui algo sobre a situação do município de Chapadão do Céu. Em suma, solidarizei-me com uma causa (que acreditava, até então, ser o próprio criador) demonstrando o descaso do governo de Goiás com esta pequena cidade que é uma das maiores produtoras de grãos da região e abriga o Parque das Emas, grande reserva biológica do centro do país.

Pois bem: como havia dito na outra bostagem, inicialmente abracei a causa por interesse particular, já que era obrigado a atravessar os famigerados 60 e poucos (que parecem muitos) quilômetros para chegar em Jataí. Ergui de forma solitária tal bandeira, por meio desse humilde, mas sincero, blog.

O problema (ou solução) é que a câmara de vereadores do Chapadão do Céu, por mera coincidência, acredito, resolveu levar a diante tal idéia, tentando de alguma forma se desvincular de Goiás para se anexarem ao MS. Clicando aqui e aqui é possível ter uma idéia do que esta acontecendo.

Nesse link link aqui o governador Alcides Rodrigues, vulgo “Cidinho”, manifesta sua reprovação à iniciativa dos habitantes.

É interessante ver a opinião de algumas pessoas. Defendendo a permanência do aludido município no estado de Goiás, hipótese provável, alguns manifestantes, que habitam bem longe do Chapadão, são até agressivos, comparando a mudança para o MS com a fracassada tentativa separatista da região sul. Tal asneira nem merece comentário.

Por outro lado, os habitantes do local, sentindo na pele e no bolso o descaso do governo estadual, defendem a remota chance de se anexarem ao estado vizinho. O escoamento da safra é prejudicado pelo alto custo do frete, já que veículos quebram e atolam sem parar na rodovia. Os moradores optam por estudar e buscar qualificação profissional no estado MS. Empregos escorrem para aquele estado. O diplomático governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli não quis se manifestar, mas certamente está esfregando as mãos, e saberá suprir a necessidade daquele povo.

Pois bem, meus caros amigos do Chapadão. Contem comigo. Embora não mais tenha que trafegar tanto pelas rodovias não pavimentadas que ligam o Chapadão a Goiás, continuo aqui, me solidarizando com a causa.

Wednesday, June 13, 2007

E o vagabundo esmola pela rua...

Trabalho como voluntário no exército da salvação. O trabalho lá é sério, bem feito. Digno de nota. Recentemente começamos duas campanhas. Uma no instituto onde realizo minhas atividades e outra numa escola onde dou algumas aulas. As campanhas eram para a doação de alimentos não perecíveis e agasalhos.

Na referida escola, a campanha, por alguns motivos incompreensíveis à minha cabeça tacanha, teve de ser pautada mais no boca a boca. Lá, a campanha restringiu-se a alimentos. Esses alimentos doados, são levados por mim até a sede do projeto e lá é redestribuido em casas de famílias cujas crianças voltaram ao lar. Notemos bem, as crianças, antes na rua, são reintegradas ao lar e o acompanhamento é feito pelo projeto. Dessa maneira, os alimentos doados são colocados numa sesta básica que é entregue à familia uma vez por mês. Em muitos casos, a grande maioria na verdade, essas famílias são miseráveis. Paupérrimas. Vivem em condições muitíssimo precárias. Algumas vezes os pais trabalham, pegam lixo na rua, fazem bico, dão um jeito de obter algum dinheiro.

E dai? Dai que a coisa funciona assim: eu, um rapaz geralmente apresentável, minimamente asseado, alimentado, enfim aceito pelo padrão social, esmolo alimentos pessoa por pessoa (igualmente aceitas socialmente) na escola. Ganho os alimentos, levo-os para o projeto e lá os alimentos são levados para as famílias. Entretanto, se um pai de família beneficiado com o projeto for esmolar diretamente, sem intermediários, certamente não conseguirá nada. Ou, se conseguir, será em quantidade muito menor. Entratanto o fim último é o mesmo, isto é, que ele e sua família comam. Mas se ele, sujo, mal vestido, mal alimentado, esmolar, nada feito... é vagabundo.

Esse é um fenômeno curioso. Novamente, minha cabeça tacanha não entende.

Monday, June 04, 2007

O duvidoso pelo certo

Recentemente saiu na revista VEJA uma reportagem sobre sobre dois irmão gêmeos, um declarado branco e o outro negro. A revista comparava a classificação racial com o anti-semitismo nazista e chegava à conclusão de que não há raça.


Não quero discutir aqui a política de cotas, uma das coisas boas do governo FHC. Sou amplamente a favor das mesmas e, com a política de expansão para alunos de baixa renda, sou ainda mais a favor. As cotas estão cumprindo seu papel, afinal, qualquer um sabe que dentre os pobres os mais pobres são negros.


Mas não é essa a questão (ou é?). Aqui quero ajudar a revista VEJA. Como, segundo a mesma, é impossível decidir se uma determinada pessoa é branca ou negra, proponho um teste. Se algum aluno ou aluna se declarar negro ou negra e isso gerar confusão, faça-se o seguinte: Leve-o à DASLU. Se quando entrar o segurança (que será negro) for chamado, o aluno é realmente negro. Ou ainda, leve-o a um shopping center da cidade e entre num banheiro. Se o aluno for da mesma cor da pessoa que estiver trabalhando naquele subemprego, então é negro. Caso isso seja muito despendioso siga o seguinte procedimento: Pergunte ao aluno em questão se ele tem emprego. Se tiver, compare o contra-cheque dele com alguém do mesmo cargo e reconhecidamente branco. Se ganhar a mesma coisa é branco. Se ganhar menos é negro. Se ganhar muito menos é uma mulher negra. Não preisa nem do exame de corpúsculo de Baar. Ainda nesse campo, compare a cor do referido com a das pessoas de maior cargo em algumas empresas, ou ainda, compare sua cor com a da maioria universitária. Se for igual, é branco. Senão, é negro. Não falha. É preto no branco.


Vemos assim o quanto é fácil saber a raça de alguém no país. Troca-se o método duvidoso (auto declaração), por um preciso (descriminação e preconceito). Vivemos num país de pobres e pretos, e ambos, embora o conjunto tenha intersecção, não tem oportunidade. Se não se tentar nada, assim fica e a gente continua achando normal a novela da globo ambientalizada na Bahia com um único negro (lembram do Rufino?). É evidente que tais políticas têm erros. Mas algo está sendo feito. É preciso debate, discussão. Amplo exercício dialético.


Machado proclamou "Suporta-se com muita paciência a dor do fígado alheio." Até quando o fígado será do alheio?