Tuesday, May 22, 2007

Retrospecto e resposta

Respondo publicamente aos insignes colegas jataienses. Antes porém, faz-se necessário um retrospecto.

Era comum minhas férias escolares de julho serem passadas em Jataí. Histórias abundam. Na referida cidade, tudo que era possível acontecia. Pra se ter uma idéia, uma simples goiabeira em um terreno baldio era um clube. O clubinho. Me são muito caras as lembranças das canelad... digo das peladas disputadas na cancha no fundo da casa com Arlei, "Crébinho" e cia. Como não lembrar também das velhotas, uma surda e outra louca, que insistiam em atrapalhar a vida para devolver uma bola chutada sem muita destreza. E das noites na antiga, quiçá extinta, Korum (ou Córum, ou sei lá).

Nessa cidade tive minha primeira alucinação sóbrio. Explico: certa vez, num importantíssimo jogo no TATUZÃO (o ginásio local), tio Batuta emendou um sem pulo de canhota, cuja força sequer precisa ser mencionada. Pois bem, eu, acometido por uma quase premonição corri desesperadamente para longe do gol, fora do alcance da bola. Infelizmente a bola me seguiu e num instante a luz se apagou. Quando dei por mim vi um clarão forte com o Peter Pan de um lado quase me convencendo a terminar as férias na terra do nunca, e de outro lado o Murdock do Esquadrão Classe A me contando uma anedota em francês. A propósito, tio Batuta e eu éramos da mesmo equipe.

Doutra feita, Sancho e eu comemos o que podíamos de Espadinha, um sortido de salgadinhos, da pior espécie, cheios de condimentos e pré-assados. Na madrugada Sancho chamou a responsabilidade, estufou o peito, e expeliu aquele aglomerado fétido de comida semi digerida de todas as formas possíveis. Eu permaneci verde durante uns três dias. Outra vez ainda fomos, de madrugada, e bêbados igual a gambás comer diskin com istratumati na rodoviária! E pra completar éramos acompanhados por um sujeito que atendia por um apelido que representa o primeiro estágio evolutivo, ameba. Diga-se de passagem que o tal sujeito faz jus ao apelido. Já as amebas, talvez não merecessem.

Mais recentemente realizamos um workshop de bateria, samba, churrasco e, claro, birita na casa do Carlão. As quatro da matina resolvemos repassar uma música que não tinha ficado tão boa e obviamente, àquela altura não ficou muito melhor. Devido ao adiantado da hora fomos convencidos pelo poder de persuasão e retórica da Lilian a voltar aos ensaios dali a três dias, ou quando a ressaca passasse.

Pouco tempo atrás houve o casamento do Negão, nosso intrépido leitor e colaborador. Festa sem limites. Tomamos tudo, e muito. Em determinado ponto da festança tive que me separar da gravata. Havia tirado-a para melhor apreciar a birita e ela caiu. Bom, disse eu ao acessório, se eu me abaixar não me levanto... se não me abaixar não te levanto... é hora de nos separarmos. Felizmente um conviva percebeu minha situação e a apanhou. Felizmente mesmo, pois meu kit era alugado.

Assim sendo, é com muito pesar que sou obrigado a declinar do afável convite feito a mim para visitar o coração do Brasil quando do nascimento do Felipe Ricardo. Todo o breve retrospecto dos parágrafos acima serve apenas para que meu pesar seja melhor compreendido. Infelizmente, por motivo de força maior, não poderei comparecer. Mas quem sabe em breve não consigamos aumentar a lista acima.

Grato pelo convite e pelos fatos que compõe tais memórias, fico por aqui. Até o mais breve possível.

Thursday, May 17, 2007

nomen

Nome é uma característica bastante complexa do ser. O meu, por exemplo, quase sempre vira Paulo. Certa vez, tomando um café com minha esposa, uma velhota perguntou nosso nome. Respondemos e a coroa disse: “Ana e Paulo! Dois nomes bíblicos, que lindo!”. Às vezes vira Mário. “Mário é aquele que te comeu atrás do armário”, penso logo. Apesar da displicência de muitos, gosto do meu nome e não tenho por que me queixar dele.

A imensurável responsabilidade de colocar o nome obviamente é dos pais. De nada adianta uma gestação saudável e um parto tranqüilo, se os pais decidem colocar o nome do filho de João Bosta ou, pior ainda, Luis Inácio. Uma mãe teve o disparate de colocar o nome da filha de Gretchen. Calculem o trauma dessa garota na chamada da escola: “...GERTRUDES! – Presente; GISLAINE! – Presente; GRETCHEN! – Presente (U-HU!)...”. Graças a uma ação judicial, ela passou a se chamar Amanda.

Alguns, como a ex-professora Eleuza (!), gostariam de escolher seu próprio nome, como fez o imortal político e ideólogo Leonel Brizola. Certamente tais pessoas, a exemplo da ex-professora, têm suas razões para isso.

Por fim, gostaria de parabenizar publicamente meu irmão Negão, futuro papai. Apesar de seu intelecto aparvalhado, teve muita sabedoria para escolher um nome, que além de belo, é bastante promissor para seu futuro filho: Felipe Ricardo. Uma sábia decisão tomada junto com sua esposa. Certamente sofreram com alguns palpiteiros, como viveu nosso bom Edu, que junto com a Sil, também contemplaram suas filhas com belos nomes.

Gosto é tão individual quanto aquele orifício situado entre as nádegas. Dou, todavia, uma sugestão para cada um dos palpiteiros que não simpatizaram com o nome escolhido pelo Negão: Faça seu próprio filho. E coloque nele o nome de Rubens! Rrrrrrrubinho!

Wednesday, May 09, 2007

efeito cromaqui

O Chroma Key (ou cromaqui) é aquele famoso recurso televisivo onde, por exemplo, a bela Patrícia Poeta informa a previsão do tempo sobre um fundo azul e que, para nós telespectadores, aparece o mapa do Brasil.

Diversos segmentos da TV utilizam o cromaqui em programas e comerciais. A vinheta da mulata globeleza, por exemplo, usa e abusa do aludido efeito, cobrindo alternadamente tudo que é parte do corpo da bailarina, menos o que teoricamente deveria estar coberto.

Sabe-se ainda que além dos mencionados casos, jornalismo e put..., digo, entreterimento, o cromaqui pode ser utilizado pra ludibriar telespectadores trouxas. Mergulhadores de alta profundidade que nunca pisaram numa água salgada e alpinistas que subiram máximo no morro dos macacos aparecem em cenas no fundo do oceano abraçando arraias ou encravando a bandeira de seu país no cume do Everest.

Aguardamos, nessa quarta-feira, dia 09/05/2007, a chegada do Papa. E daí? Ora, o sumo pontífice vai declarar o primeiro santo brasileiro, lembrando que o Brasil é o maior país católico do mundo! E daí, de novo??? Ora, soubemos pelo nosso editor-controlador-de-vôo-comandante-chefe que os mendigos, crianças de rua e demais necessitados seriam sutilmente escorraçados do caminho do papa. Eis, portanto, a novidade do vaticano: sua santidade, na realidade, atravessará por imensos corredores de fundo azul onde, na sua televisão, serão projetados via computação gráfica os populares que irão ver o papa.

Salienta-se, porém, que padres, madres, freiras, diáconos, cardeais, arcebispos, bispos, cavalos, torres e peões serão de verdade, para que se dê um pouco de realidade à presença do santo-padre.

Portanto, o fato de o papa estar no Brasil será tão significante quanto se ele estivesse no Vaticano. E para nós, weissbier no cálice e salaminho, fatiado bem fininho!

Sessão da tarde

Vejam o vídeo abaixo. Vale a pena passar por esses 13 minutos e 49 segundos de boa ilustração da situação da universidade pública.

<http://video.google.com/videoplay?docid=2766804175625447712&pr=goog-sl>

Depois para distração, passe mais 15 minutos agradáveis com o excelente "Ilha das Flores" http://www.portacurtas.com.br/filme.asp?COD=647# e se distraia com um pouco de realidade.

Abraços. Até a tela quente.

Wednesday, May 02, 2007

O Papa é Pop

O novo, com relação ao cargo, papa vem visitar o Brasil. Para delírio dos padres, freiras, bispos, episcopisas, carolas e todo o resto da fauna. Aqui em São Paulo a prefeitura já tomou suas providências cristãs: todos os mendigos e menores de rua serão retirados da praça da Sé para a passagem do papa. Desde o governo Jânio Quadros isso é feito aqui e ainda hoje, precisamente as 6:00 da manhã de todos os dias, a prefeitura toma o cuidado de regar o gramado embaixo do viaduto do Chá. Lá dormem os menores de rua. Depois, 8:30, os mesmos menores são escurraçados do centro da cidade, pois o comércio está abrindo. Assim são tratadas as crianças de rua dia após dia: são levadas para a margem, conotativa e denotativa, da sociedade. Mas voltemos ao papa, a sociedade (da qual fazemos parte... e mais nada) critiquemos depois.



Sempre achei que a Igreja deveria ser a primeira a ter contato direto com as mazelas sociais, muitas das quais ela mesma ajudou a criar. Assim prega os dizeres das Encíclicas. Entretanto, não sei realmente porquê, o que se faz quando, raramente, um representante supremo dela resolve olhar para além da batina é ocultar a realidade. Será comovedor ver o papa na praça de Sé "limpa", sem mendigos, sem doidos, sem menores cheirando tiner e fumando craque (um me disse: "senão dá fome tio..."), sem prostitutas, enfim sem ser a praça da Sé.



Acho que esse pode ser um dos motivos pra cegueira cristã. Pra cegueira da igreja. Enquanto o papa e o alto clero ainda se preocupa em criticar o uso da camisinha, em dizer se o Galileu estava ou não certo, em não recomendar este ou aquele livro e em desencorajar pesquisas com células-tronco (algo que nenhum representante da igreja sabe realmente o que é), na vida real as pessoas morrem de fome, de frio, de AIDS e de ignorância. A realidade está distante do papa na mesma proporção em que os mendigos da Sé estarão afastados da praça. E o pior é ver o apoio que a prefeitura recebe de parte da sociedade (olha a gente aí de novo) com uma atitude dessas. E pior ainda é ver a maior parte das pessoas sequer pensando nisso quando lêem a notícia, quanto mais protestando. Com atos desse calibre não podemos esperar muito da glamurosa visita do nosso cristo na terra. O papa é pop, a realidade, punk.