Monday, February 23, 2009

O que é pior

Brasileiro tem mania de grandeza, de colocar as coisas do Brasil como as maiores do mundo: a maior floresta do mundo, a maior favela do mundo, o melhor futebol do mundo e por aí vai. A coisa é tão maluca que o site do Terminal Rodoviário Tietê (aquele do Maluf) tem o seguinte slogan “A maior Rodoviária da América Latina”. Como se fosse motivo de orgulho.

Mas a mania de grandeza não para por aí. Ela se estende pra pessoas também. Atletas são os favoritos: Pelé foi o melhor jogador de futebol do mundo. Duvido que isso seja verdade. Tudo bem que não vamos compará-lo ao Maradona (a melhor fase do Maradona foi pior que a temporada 96/97 do Edmundo), mas e o Fuscas? Aliás, nem lembro como se escreve o nome do cara. Mas foi aquele que fez gol de tudo quanto foi jeito. Dizem também que o Senna foi o melhor piloto. O Senna? E o Schumacher? O alemão ganhou TUDO, quebrou TODOS os recordes, mas o melhor é o Senna. E se disserem que não dá pra comparar porquê era outra época e tal, então não há como afirmar que alguém foi melhor (visto que “melhor” ou “pior” é necessariamente comparativo). O Kaka é o melhor jogador do mundo atualmente. Veja bem, eu não gosto do Kaka. Nem tem muito motivo, não gosto dele gratuitamente mesmo, mas que ele não é o melhor, não é! O Cléber Pereira cansado e gaguejando joga muito mais que o Kaka.

Isso tudo sem contar outras coisas. Por exemplo, na música, que é mais controversa, já ouvi falarem que o Pixinguinha foi o melhor músico do mundo. Pra mim, que não diferencio um fagote dum oboé tudo é festa. E como não tenho nada de ruim pra falar do Pixinga, vou dar o benefício da dúvida pra essa afirmação. Dizem também que o Brasil tem as mais belas praias. Não sei, não conheço todas. Mas conheço Matinhos... então se no resto do mundo for como lá, não vai ser muito difícil ganhar essa. Falam ainda que somos o povo mais criativo do mundo. Não lembro de nenhum brasileiro que tenha obtido sucesso inventando algo. O brasileiro não inventou o avião, nem a televisão, nem a internet, tampouco o carro, a roda, o futebol, nada! Acho que quem fala isso confunde criatividade com gambiarra. Porque nesse último quesito sim, somos imbatíveis!

O triste é que com toda essa memória ufanista o brasileiro esquece de quem não deveria. Por exemplo, Milton Santos. Brasileiro, preto, pobre, e um dos maiores geógrafos do mundo. Ganhador da maior honraria atribuída a um geógrafo... e esquecido, desconhecido. Mas o último ganhador do BBB (o maior reality show do mundo, provavelmente) certamente é lembrado! Pra falar a verdade não sei o que é pior: engrandecer o que é pequeno ou diminuir o que é enorme. Outro exemplo é o Paulo Coelho, o aclamado maior escritor do mundo. Na minha opinião qualquer folhetim, nota, recado, bilhete, carta, correio elegante, rabisco ou rascunho do Guimarães Rosa é melhor que o melhor livro do Paulo Coelho. Mas o Guimarães também não é muito valorizado, pelo menos não no Brasil. É lembrado só nas listas de livros pra vestibular. Bom, poderia ser pior. Poderiam cobrar o Paulo Coelho no vestibular. Já imaginou analisar figuras de linguagem num texto do Paulo Coelho? Só poderia ser assim:
Na frase “o atirador, o arco e a flecha eram uma só coisa” o autor usa:
1) Concordância por silepse.
2) Uma onomatopéia.
3) De um mau gosto extremo.
4) LSD.
Ou ainda:
O livro “O diário de um mago” é narrado em:
1) Primeira pessoa.
2) Terceira pessoa.
3) João Pessoa.
4) Algo que, com muito esforço, possa ser chamado de literatura.

No fim essa coisa de melhor ou pior é meio sem nexo mesmo. Mas temos mania de elegermos uns heróis. “Triste da nação que precisa de heróis” disse Brecht. Tristes de nós, a nação mais exagerada do mundo.

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