Wednesday, July 23, 2008

Mas pra que vocês usam eles???

O ser humano é multifacetado. Esquisito. Esquivo e tudo o mais que todo mundo sabe. Some a isso um grau generoso de arrogância e prepotência e pronto, você tem um físico teórico. Os congressos de física teórica são muito engraçados. Algumas palestras parecem ser feitas pra que ninguém entenda realmente o que se está discutindo. E certamente atingem seu propósito. A platéia, entretanto, aparenta ser uma demonstração de exuberância cerebral. Ao final de todas as palestras, o protocolo exige que se bata palma. Muitas vezes faço isso por puro alívio, dando graças pelo fim daquele suplício. Outras são bem dadas, bem justificadas e elaboradas. Mas essas certamente são a grande minoria.

Mas o interessante são as conversas depois das palestras. Num grupo, alguém se "empavoa" e começa uma preleção desastrosa sobre o assunto da palestra. E todo mundo concorda cervilmente. Noutro, as pessoas estão preocupadas demais falando de si mesmas, do quanto são geniais, e não discutem nenhuma física efetivamente. Ainda em outro, as pessoas estão rindo às custas de algum outro físico que julgam ser ruim. E por aí vai. Vê-se, portanto, o quanto se é difícil ter uma conversa agradável nesses ambientes.

Por outro lado, quando isso acontece, pode ser interessante. Fiz um amigo chinês, o Chen. Ele me chama de "Diúrio" e insiste que eu sou russo. Ele fala engraçado, com sotaque forte e constrói frases como: "Desde quando você apareceu no mundo?" (ao invés de quantos anos você tem?), "poderia lhe apresentar as pessoas que me acompanham em caminhadas?" (ao invés de posso lhe apresentar meus amigos?) e por aí vai. Hoje no almoço, depois de convencê-lo que eu sou brasileiro, perguntei pra ele se na China eles realmente comiam cachorros. "Sim, disse ele, é claro! Isso é muito comum e vem de muitos anos atrás. Na verdade comemos muitos animais por lá, cachorros, cobras, muitos animais mesmo. Basta que não tenham veneno. E vocês no Brasil, também comem cachorros?" O interessante foi a reação dele quando disse que não: "Não! Mas pra que vocês usam eles???" Foi difícil explicar que usavamos para diversão, como uma criação de estimação, chegando algumas vezes a ser considerado um membro da família. Ele me olhava friamente. Depois disse que na verdade considerávamos eles ' os melhores amigos dos homens'. Ele parou um pouco, pensou, e concluiu com uma alegria típica de quem encontra uma solução: "Mas o que vocês fazem com eles quando eles morrem???" Nem tentei explicar. Depois de rir uns cinco minutos entendi algo importante. Diversidade só é demais quando não é tolerada ou compreendida... ou saboreada.

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