Friday, April 18, 2008

jantar de gala

Essa aqui vou narrar em 1ª pessoa, como se eu tivesse passado pela situação.

Certa vez, eu e minha namorada fomos convidados para um jantar especial. Seria na casa dos tios da minha garota, pessoas afáveis mas que tinham um requinte, uma elegância a qual eu não estava habituado. Obviamente que a primeira tentativa era de furtar-nos da encrenca. Naturalmente fracassamos e acabamos confirmando nossa presença.

Uma vez trajado, minha namorada me relembrou detalhadamente das regras de etiqueta que havia copiado de uma edição da revista Seleções de 1946. Tudo para não fazer feio com os simpáticos parentes.

Chegamos e fomos muito bem recepcionados. Não era um ambiente tão suntuoso, porém muito bem decorado. Não havia dúvidas que situação doravante seria tensa e a gafe mera questão de tempo.

Nos serviram alguns aperitivos, quando a anfitriã anunciou o prato principal: Peru! Eu nunca havia degustado o sabor de tal ave mas os anúncios em revistas e na televisão preto e branco sempre me deixava com água na boca. Como seria? Assado no forno com batatas? Ao molho, como minha mãe fazia? A curiosidade me aliviou um pouco o nervosismo. Foi então o jantar servido.

Haviam mais convidados, e todos sentamos à mesa. O tio aproveitou para contar algumas piadas, no momento em que veio a bandeja com aquela tampa em forma de abóbada, como nos desenhos do Tom & Jerry. Já estava me sentindo um Lord, quando inadvertidamente a travessa foi destampada.

Um estranho odor tomou conta do ambiente. Algo do tipo “esfregão cozido ao molho pardo” ou “sopa de cueca maturada”. O tal peru parecia vivo, cuja carne apresentava um tom vermelho-esbranquiçado. Acho que a tia se atrapalhou com o cronômetro e, antes de qualquer protesto, serviu-me em primeiro lugar, homenageando a sobrinha. Estava em dúvida se ela realmente gostava da sobrinha ou se não tinha muito ido com a minha cara.

Uma bela coxa de peru foi parar em meu prato. Naquele momento vi que a coxa é muito maior do que se via na televisão. Os demais comensais fizeram cara de espanto. Servi um pouco das demais guarnições que estavam na mesa, na frustrada tentativa de disfarçar o odor que exalava daquela canela do moribundo peru. O sabor era o previsto. As faces dos que estavam à mesa confirmava a tragédia. Permanecíamos elegantes, seguindo as frescuras da etiqueta, todavia com a cabeça num belo sanduíche de mortadela.

Nesse momento a copeira trouxe uma farofa que havia se esquecido de servir. Um novo odor contaminou o ambiente. Flatos? Que nada. Disfarçadamente me afastei um pouco da mesa para conferir o solado de meus sapatos, se tinha pisado em algo. Nada. Não restava dúvida que o fedor vinha da farofa.

O constrangimento estava estampado na cara dos convidados e certamente havia sido confundido com timidez, ou algo parecido. Após algumas garfadas, a coxa do peru permanecia praticamente intacta. Então, subitamente, num momento de distração dos anfitriões, encaixei com força a canela da ave num vaso que tinha uma planta ornamental. Agi rapidamente, tentando acabar com o resto da comida que estava no prato, quando a tia gentilmente me ofereceu outro pedaço de peru. É feio recusar. É feio pedir mais. Não entendo essas regras. Recusei mesmo assim, dizendo que estava satisfeito. A plantinha ia murchando, do mesmo modo que os demais convidados.

Por fim, como sobremesa nos foi oferecido um quindim, apesar da indisposição de todos. Até que estava gostoso mas, pelas normas da etiqueta, também é feio repetir. Engraçado. O peruzão, sabor esfregão, a tia ofereceu de novo. O doce gostoso não.

Nos despedimos, agradecendo o “delicioso” jantar, onde a tia nos prometeu novas receitas em oportunidades futuras. Seja o que for, peru esta riscado de nossa lista de preferências.

Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

mera coincidência... certo certo...
hehehe

4/22/2008 6:18 AM  

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