Wednesday, September 03, 2008

Deve ser pessoal

Sou comunista. Pelo menos é isso que afirma o Sr. G. O Sr. G é um médico amigo meu. Nos termos certos, é um conhecido formado em medicina em uma universidade escusa, e cara. Ele afirma convictamente que eu sou comunista. Eu não tenho convicção de nada, absolutamente nada. Convicção e ciência não andam juntas, mas o Sr. G não compreenderia isso.

Sinto desapontar o Sr. G mas não sou comunista. Não sou o que ele afirma, pois pra ele comunista espeta criancinhas em grades de portões, como nas capas das cartilhas da Comunidade, Família e Propriedade. Não sou comunista na atitude teorética, pois seria necessário estudar muito para isso. Não o sou na prática porque além de me faltar o conhecimento adequado à aplicação, sou preguiçoso, inepto e faço pouco caso da situação alheia desde o meu esteja fora da reta. Mesmo assim, vou aceitar o elogio do Sr. G.

O Sr. G é fonte quase inesgotável de sabedoria de páginas amarelas. Eis algumas pérolas: “a minha opinião é igual à do meu pai” (?), “não sou racista, mas preto quando sobe no meio-fio já quer discursar” (!). Algumas outras prefiro ocultar para que eu não pareça um completo palhaço. Não que eu não seja um completo palhaço, mas não vai ser por causa do Sr. G que eu vou me revelar.

O Sr. G fez uma série de piadas sobre mim pelo fato de eu haver voltado para uma cidade do interior. Ele não entendeu que eu estava lá de férias. Ele voltou definitivamente, e parecia estar achando isso horrível. O SR. G acha que isso é retrocesso. Provavelmente nunca soube, por exemplo, que Kant nunca saiu de Koenigsberg. Ou melhor, nunca ouviu falar de Koenigsberg, nem de Kant. E se ouviu, ou improvavelmente, se leu, não entendeu.

O Sr. G é uma verdadeira enciclopédia, ou seja, possui um monte de informações resumidas que no mais das vezes descontextualizam tudo e dificultam ainda mais o aprendizado (“na versão da macro-história nada gera o general”...). Perguntei a alguns, esses sim, amigos e médicos o que achavam do Sr. G como profissional. Eles se entreolharam e disseram simplesmente “é fita”. Acho que entendi, eles foram polidos.

O Sr. G perfaz em si tudo o que mais me faz rir: um consumista vazio, deliberadamente estúpido e que se atribui, invariavelmente, ares de importância. É um prazer ser desafeto do Sr. G. Ficaria preocupado se não o fosse. Caso o intelecto do Sr. G permitisse, eu poderia fazer alguma pilhéria a respeito do que disse a ele evocando o paradoxo de Creta e dizendo altissonantemente: Eu sou um mentiroso. Mas infelizmente, o Sr. G também não compreenderia isso.

Não sei porque o Sr. G gosta de me provocar volta e meia. Por motivo ideológico é que não é, não há capacidade nele pra isso. Enfim, deve ser pessoal. Não da minha parte; afinal o senhor G não é tão importante assim.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Só uma pergunta canha, O Dr. G, tão falado, é o seu psicólogo?????
Se for, cai fora, pois eu acho que ele não vai te ajudar.

9/09/2008 11:04 AM  

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