Friday, February 23, 2007

as Faxes do Sr. Orlando

Lembro-me de certa vez em que eu e o Marny (aquele que chafurdou na lama comigo certa vez, na praia, numa estória já relatada aqui) fomos convocados para uma reunião de emergência a ser realizada na casa de um dos membros da comissão permanente mantenedora da paróquia do Araguaia. Resumindo, ia ter cerva e carne assada.

Nossa missão era simples: assessorar o Sr. Orlando no que ele necessitasse. Em contraprestação, poderíamos comer e beber a vontade na boca livre.

Agimos de forma coerente com o cargo que nos confiaram, chegando alguns minutos antes para avaliar a situação e oferecer nosso labor. O anfitrião, porém, já tinha cuidado de tudo, nos restando apenas degustar as iguarias a serem servidas.

Como nem tudo é tão simples quanto parece, nesse caso, o ditado “na prática a teoria é outra”, criado por nosso insigne amigo Fábio, restou oportuno.

Constatamos a ausência de freezer no recinto. Nada que uma boa caixa térmica abastecida de gelo não resolva. Mas, neca de caixa térmica. “Será que a cerva ta sendo resfriada na geladeira?”, indagou Marny. Pude observar, valendo-me daquelas táticas militares de espionagem, quando a esposa do anfitrião abriu a geladeira retirando um suflê sórdido, de aparência questionável, que não havia birita.

A situação era tensa. Disfarçamos um pouco por ali, imaginando como seria o evento com churrasco seco, quando o Sr. Orlando nos convida para “molhar as palavras”. Esfregamos as mãos, suadas por ocasião da expectativa até então frustrada, e fomos acompanhar o bom senhor.

Nesse momento, cutuquei o Marny lhe mostrando uma cena bizarra. Uma tal cerveja Faxe, desconhecida até então, importada, de origem Belga. Ou dinamarquesa. Sei lá. Esse mero detalhe não era pior do que a técnica que a dita bebida estava sendo refrigerada. Latas de 500 ml (os famosos latões) esparramadas no tanque de lavar roupas, sob uma torneira aberta.

O anfitrião pegou uma para cada um de nós e propôs um brinde, ou seja, imediatamente minou nossa idéia de “rachar” em dois a cerva quente. Pra completar, nos serviu ainda alguns pedaços de lingüiça, daquelas cuja composição é 90% toucinho (graxa, banha) e o restante material orgânico indecifrável. E tava mal-passada ainda por cima. Tentamos utilizar o artifício da farinha, mas nem isso era capaz de enxugar a gordura exalada.

O movimento foi aumentando, nos possibilitando planejar uma fuga. Mas cumprimentando um e outro convidado, sempre tomando uma cervejinha e comendo o mencionado aperitivo, conseguimos, após uns 4 latões de Faxe cada um, debandar.

Não ficamos para a janta propriamente dita. Dava pra ter uma idéia de como seria a carne acompanhada da duvidosa torta da esposa do Sr. Orlando. Mas a ressaca que nos acometeu, juntamente com a péssima situação do sistema gastrintestinal nos rende até hoje boas (?) lembranças.

Não sei ao certo qual o efeito provocado em meu organismo, mas quando vejo um latão de qualquer cerva importada, minha discreta testa se franze.

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