Sunday, February 11, 2007

Apostas

Havia um bar, ainda há, perto da faculdade onde alguns estudantes afogavam suas diversas e geralmente procedentes mágoas. Certa vez um colega e mim lá estávamos tomando com calma algumas geladas. Aliás com tanta calma que lá ficamos das oito da noite às duas da madrugada.

Empapuçados de tanta birita fomos ainda matar um prensadão com duas salsichas, do tipo que agrada ao palato do editor-redator-repórter-sócio Sancho. Como de hábito, o lugar era de salubridade duvidosa, mas isso pouco importava. Pelo menos até a digestão ser levada a termo.

Chegando em casa, bêbados igual a dois gambás e começando a sentir os efeitos do prensadão, principalmente no que se refere a eructação e a flatulência, fomos assistir qualquer coisa na TV. Acontece que precisamente naquele dia estava passando a final do aberto de tênis feminino da Austrália... fato realmente importantíssimo em todas as esferas da conjuntura mundial.

Até aquele momento nunca havia visto um só jogo de tênis sequer. Aliás é este um esporte tão elitista que poucos, pouquíssimos aficcionados tem idéia de porque a pontuação é tão esdrúxula. Bom, começando o jogo meu amigo tomou logo o partido de uma das tenistas. Segundo ele, a tal tinha uma elegância típica dos grandes mestres e etc etc. Eu, pra não ficar por baixo tomei o partido da outra. E como não havia possibilidade de argumentar de maneira convincente, pois não entendo patavina daquilo, justifiquei minha escolha dizendo simplesmente que era a melhor. E que, se ele quizesse, eu apostava.

Geralmente apostávamos uma pia cheia de panelas, ou uma geral no banheiro. Mas desta vez, impelidos pelos eflúvios do álcool colocamos nossa aposta nos seguintes termos: aquele cuja escolhida perder terá que ir até o outro lado do corredor (que era grande) e tocar (as três da matina) a campainha da vizinha, apelidada de garota buchecha... mas de cueca! Por favor, veja atentamente o apelido da vizinha e não confunda com algo mais cacófono.

Enfim, era isso. Ir de cueca atrapalhar a vida da garota buchecha. Nunca torci com tamanha fervor. Seria desastroso cumprir os termos da nossa aposta. Cada ponto era comemorado com tanto entusiasmo que recebemos três notificações na reunião do condomínio daquele mês. Mas ao final do jogo, a tenista na qual eu havia apostado triunfou.

Meu amigo pagou a aposta com brilhantismo. Girando o calção no ar foi gritando até o outro lado e esmurrou a porta da menina. Quando se pôs a voltar rapidamente, um ímpetus maligno fez com que eu fechasse a porta e a trancasse.

Pelo olho mágico pude ver seu desespero voltando para a escadaria mais ou menos na mesma hora em que a referida abria a porta com a cara inchada. Não conseguia parar de rir. Não consiguo até hoje. Quinze minutos depois ele voltou pra casa, um pouco mais recomposto e dizendo calmamente: seu filho da p... espera só até você dormir.

Somos amigos até hoje. Dias atrás ele foi me visitar em floripa e fomos ao mesmo bar. Dessa vez sem apostas. A propósito, naquela noite e na semana subsequente dormi com a porta do quarto trancada.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

HAHAHAHAHAHA.... O cara se fudeu!!! Muito boa...

2/12/2007 3:48 AM  
Anonymous Anonymous said...

Eu sou o referido apostador-que-se-fodeu. O nobre colega C-S não sabe de um fato: no período em que eu estava no corredor, ajoelhei na calçada e comecei a rezar para que a importunada não adentrasse ao recinto, pois, ao fazê-lo, soltaria um grito que colocaria de pé todos os condôminos. Eu seria no mínimo espancado, pois não há perdão para tarados e molestadores de garotas indefesas. Mas que tal fato foi hilário, isso foi.

3/10/2007 7:45 AM  

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