Monday, March 12, 2007

Massacre no bairro japonês

Acordei neste domingo, tarde, como de hábito nos finais de semana. Após uma rápida passagem no chuveiro verifiquei que meu estoque de mantimentos havia acabado. Como já era meio dia e alguma coisa fui para rua a procura de perecíveis. Foi quando, ao passar em fente a um restaurante típico japonês resolvi arriscar a sorte. Pra variar, obtive revezes.

Entrando no recinto o primeiro choque. Fora eu mesmo, a pessoa com o olho mais aberto tinha uma distância de um diâmetro atômico entre as pálpebras. Fui olhado com a habitual argúcia oriental. O garçom chega e, aposto que propositadamente, fala em japonês. Após cinco segundos perguntando a mim mesmo que diabos fazia ali digo um cerimonioso "quê??". Mesa pra um? Sim! Respondi com firmeza. O cardápio foi entregue. Grande coisa, nada estava em português. Fui me informando com o garçom, que estava sem dúvida obstinado a dificultar minha vida. A cada prato que perguntava ele primeiro falava em japonês. Depois em português.

Pedi algo que parecia agradar ao palato. Enquanto esperava veio o bendito e me entregou um punhado de algum vegetal verde-muco, os benditos palitinhos e uma toalhinha quente e enrolada. Dissimuladamente observei um japa ao lado que limpava as mãos com a toalha. Imitei. Quanto aos vegetais, a velha máxima me veio à mente: desse troço eu não como! Alguns comensais me olhavam, cochichando com os outros. Como se eu tivesse que comer os tais vegetais. Ignorei. Simplesmente dei de ombros e fui abrindo o recipiente dos palitinhos.

Enfim chegou o prato pedido. Ei-lô: em uma tigela vem uma mistura de arroz, ovo, carne de frango, um monte de algas, arroz e mais um pouco de arroz. Talvez mais ainda. Em outro pote, mais vegetal, dessa vez com uma coloração opaca. Por fim uma espécie de tigela cheia de um caldo de cor indecifrável e o que parecia ser conchas do mar!

Bom, eu sou canhoto. E reconheço que um simples garfo já me dá trabalho suficiente. Imagine os palitos infernais. Após várias tentativas frustadas, já estava usando-os como uma pequena estaca e literalmente espetando a comida. Ao perceber que já era uma atração ridícula à parte no restaurante, sucumbi e pedi talheres normais. Não sei se foi pela quebra de protocolo ou pelo emprego da palavra "normais" em voz alta (e já irritada), mas em parte do recinto ecoou uma reprovação em uníssono. Meu amigo garçom sorria abertamente. Novamente dei de ombros.

Chegando o bom e velho garfo comi um vegetal opaco. Nunca ingeri algo tão salgado, mas nada que um punhado do interminável arroz não ajudasse a engolir. Eu tive sérios problemas em decifrar a utilidade daquele caldo que veio com o prato. Até agora não sei se era um simples enfeite, algo para ser bebido, um tipo de molho ou era simplesmente o garçom tirando sarro. Enfim, assumi que era molho. Tudo o que ia comer mergulhava naquilo. Foi quando novamente percebi ser motivo de alegria. Nada me deixa mais feliz!

Após mais umas beliscadas fui embora. Em casa, lendo tranquilamente senti uma pontada aguda na barriga. A buchada ia mal. Dali pra frente fiquei mais tempo no banheiro do que em qualquer outro recinto. Pra se ter uma idéia, essa simples bostagem teve de ser interrompida três vezes por motivo de força maior. Sinto que a tarde será melhor. Entretanto ficarei por aqui. A quarta vez me aguarda. Com impaciência.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

A bostagem aqui feita pelo nobre colega C-S me traz tristes lembranças. Lembro de eu adentrando o recinto do Restaurante Universitário da UFSC, também chamado de RU, cuja abreviação que acabo de mencionar se assemelha, e muito, à onomatopéia de uma pessoa com refluxo.
Lembro-me de, ao apanhar a bandeja, a primeira visão do inferno: o famoso bife James Bond com pudim atômico de sobremesa. Explico-me. Bife James Bond: duro, frio e com nervos de aço. Pudim atômico: sombremesa feita de sabe-se lá o quê, com uma coloração que lembra, não sei ao certo, o elemento radioativo que emite raios gama altamente energéticos, urânio.
Após passar pelo apanhamento de bandeja, eu ia somar uma outra quantia de arroz e feijão à tão rala refeição. Ao chegar no local próprio para tal, me deparo com uma mulher enorme, de dimensões 2m x 3m, jogando com uma mão uma colherada de arroz, e com a outra uma de feijão. A mulher jogava as colheradas com tanto desprezo, que parecia que ela estava defecando em minha bandeja.
Havia também o famoso chinelão: um prensado de restos de frango(que envolvia osso, pena e vísceras desta ave, que de carne não tinha nada)que se assemelha a um solado de havaiana.
Cabe agora ao distinto colega decidir: a comida japonesa de cores e odores indecifráveis, aliado a um garçom filho da puta, ou às maravilhas culinárias do RU, com a mulher que defecava metaforicamente nas bandejas.

3/13/2007 11:31 AM  

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