Wednesday, March 07, 2007

Carta aberta (a ser publicada no jornal da UFSC)

CARTA ABERTA

A UFSC implementa, desde 2005, um projeto pioneiro de Educação (EaD) a distância para alunos do Maranhão e interior de Santa Catarina. Tal projeto funciona sob os auspícios de professores que encabeçaram a difícil tarefa da transmissão não presencial do conhecimento.

Incorpora o grupo de desbravadores, alunos de graduação e pós-graduação da UFSC que atuam em contato perene com os estudantes, tirando-lhes dúvidas, de toda natureza, e auxiliando-os na realização das disciplinas. Estes são os tutores. Cada disciplina tem seu grupo de tutores em quantidade tal que visa, em princípio, suprir a necessidade da cátedra. Esse é o esboço sintético do funcionamento do EaD.

A seleção de tutores funciona através de concurso público simplificado, onde os candidatos passam por três etapas, a saber: análise curricular (não eliminatória), prova escrita e entrevista. Tal concurso é feito pelos professores das respectivas disciplinas e acompanhado por um coordenador, também professor, geralmente em posição acentuada na hierarquia professoral que rege o curso.

Dias atrás, do presente ano, iniciou-se uma greve por parte dos tutores de Florianópolis, pois não recebiam seus salários há tempos. A greve deu-se nas vésperas de um concurso que visava ampliar o quadro de tutores, abrindo vagas para trabalhos referentes à 40 horas semanais, ao invés das atuais 20 horas exercidas pelos tutores. Antes de prosseguirmos vamos nos reportar a um dia crucial, quando da abertura do edital. Desta data em diante, a terminar no dia da deflagração da greve, paulatinamente, as coordenadoras do curso de matemática (modalidade a distância) Rita e Neri visitavam a sala dos tutores encorajando-os a prestarem o concurso e atuarem, então, nas quarenta horas indicadas no edital pois, segundo as mesmas, e com razão, os já tutores eram possivelmente os melhores indicados para as vagas, uma vez que há tempos exerciam o trabalho. O edital, fique claro, em nenhum ponto obstava a participação dos já tutores no processo de seleção. Assim, impulsionados pela nova possibilidade e, não em menor grau, pelo constante encorajamento das professoras Rita e Néri, vários tutores se inscreveram no referido concurso.

Esclareça-se, entretanto, que a participação dos tutores no concurso não implicava pronta aceitação do candidato. Era preciso concorrer. A vantagem, se existisse, ficaria restrita ao âmbito da experiência profissional já adquirida para a vaga. Tudo nos termos da lei, conforme estabelecido no edital.

Voltemos à greve. Os tutores, não encontrando outra possibilidade de recebimento, e já enfrentando os revezes da falta de pagamento lançaram mão da paralisação. Novamente, tudo nos termos da lei, conforme pregam as diretrizes trabalhistas. Notória, porém, foi a súbita mudança de comportamento e postura por parte das professoras Rita e Neri. Estas, na tentativa de aplacar a greve dirimindo o movimento, proferiram em bom tom ameaças junto aos tutores que se inscreveram no concurso. Tais ameaças versavam sobre um eventual prejuízo no concurso para os candidatos que quisessem aderir ao movimento. Numa palavra, a mensagem foi bem clara: quem entrasse em greve não seria aprovado! Causa, na mais fria análise, pasmo a atitude das professoras. É certo, ninguém pode ser vítima da própria retórica. No entanto, uma mudança tão abrupta de atitude merece, precisa, ser questionada.

Os tutores mantiveram-se unidos. A greve ocorreu com plena participação. Dias depois, o pagamento saiu e o trabalho voltou. Mais alguns dias, na sala onde o concurso se realizaria, com todos os candidatos em sala, entra a professora Rita e, no costumeiro bom tom diz que haverá privilégio aos candidatos que não são tutores. A prova dos já tutores valeria menos.

Algumas questões vêm à baila: como as coordenadoras do curso a distância podem interferir, a posteriori, nos quesitos de seleção de candidatos de um concurso público? Como tal intervenção pode chegar ao despropósito da explicita eliminação de um candidato sem embasamento advindo de critérios justos? Como a ingerência das coordenadoras pode eliminar dessa maneira os candidatos, pelo menos em tese, mais preparados? Como qualquer projeto que queira ter a alcunha de sério pode ser sujeito a tal tipo de atitude nada razoável? Como os candidatos tutores podem ser a tal ponto lesados por essa espécie de capricho infantil das coordenadoras?

Muitas são as dúvidas, assim como as indignações. Com clareza análoga à atitude absurda das referidas professoras, a mensagem aqui é explícita: este tipo de comportamento precisa ser admoestado! E em maior grau, precisa ser amplamente divulgado. Só assim tais desmandos podem ser interrompidos.

Note-se que não somente os tutores foram tolhidos. Os alunos, que tanto necessitam e merecem o acompanhamento intensivo de tutores qualificados, também foram lesados. Levando em conta esse inadmissível comportamento por parte das referidas professoras, faz-se necessário amplo e efetivo debate! Os direitos dos tutores precisam ser respeitados! Do contrário, sugere-se que a sigla EaD seja transformada em FEacD- Falta de Educação a curta Distância.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

É imprescindível que tais acontecimentos venham à tona, para que a comunidade acadêmica em geral fique ciente dos estapafúrdios que vêm ocorrendo nesta recente modalidade de ensino a distãncia.
É comum os tutores não recebrem seu tão suado é mal-pago salário, principalmente os tutores que trabalham em Florianópolis, na UFSC. Tenho conhecimento de um tutor que começou a trabalhar em outubro de 2006, e o salário referente a este mês foi pago somente em janeiro de 2007. Talvez os responsáveis acreditem que estes trabalhadores sofridos têm reservas energéticas que os permitem ficar dois meses sem comer, ou que o dono da casa em que residem tem amnésia e esquece de cobrar o aluguel.
Não se sabe se tais imcompetências vêm da parte da FAPEU, órgão encarregado de encaminhar o pagamento dos funcionários dessa modalidade de ensino, ou se a Universidade anda usando o salário dos tutores para outros, e porque não dizer, escusos fins.
É válido mencionar também que a remuneração dos tutores é baixa, equivalente ao salário de um professor que atua na educação do estado de Santa Catarina, que por sinal, é o segundo estado que pior paga os professores no Brasil. Diante de tais circunstâncias, é natural emitir um parecer que caracteriza as precárias condições de trabalho a que estes trabalhadores estão sendo submetidos.

3/10/2007 8:01 AM  

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