Friday, September 15, 2006

2+2=...

Todos sabemos que a vida de professor é, no mínimo, penosa. Isso para não usar de adjetivos escabrosos e, em certo sentido, mais verdadeiros. Pois certa vez eu fui um desses sofredores de escolas públicas. Dava aulas de física e reforço em matemática para o segundo grau de uma escola estadual de Florianópolis.

Pois bem, para que os alunos tivessem um incentivo a mais, de vez em quando eu colocava um problema mais trabalhoso no mural valendo dois pontos (que para qualquer aluno desesperado por nota é uma maravilha). Numa das vezes o problema era provar o teorema de Pitágoras. Em resumo, após alguns malabarismos algébricos o afortunado deveria chegar em: o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Era isso. É um resultado bem conhecido mas quase ninguém demonstra, logo é a coisa ideal para estimular algum aluno meio cambaleante na matéria.

Duas semanas se passaram e ninguém trouxe uma solução séria. Porém, certo dia, um aluno chega a mim e diz, permitam-me a transcrição literal do que o rapaz disse (para ser melhor entendido leiam com ares de empáfia): "Professor... eu estive analisando aquela questão. Fiz ontem a noite uns cálculos matemáticos profundos em casa antes de dormir e cheguei na resposta. Pode me dar os pontos." Perfeito, era um cara que nem ia bem na matéria, e isso além de dar pontos poderia despertar um maior interesse. Mas então caí na besteira de perguntar como ele fez, e: "Eu fiz por métodos matemáticos." (não diga) "A resposta é" (tcham-tcham-tcham-tcham)"4." Acreditem ou não o cara achou 4. Quatro? Como quatro? Que quatro? Quatro da onde? Era para achar, lembre-se, o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. E ele me acha 4!!!! Deus meu! Que espécie de ser humano acha um número num problema em que se deve achar uma sentença? Jamais um problema desses dá um número como resposta! Meu desespero foi tamanho que minha vontade era tirar dois pontos do cara. Que maldição.

Depois disso nunca mais coloquei desafios no mural e um mês depois uma bolsa me salvou da necessidade de dar aulas. Uma lição porém ficou; do jeito que anda o ensino público o mínimo já é um desafio.

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