Saturday, August 19, 2006

bela “arte”

Certa vez, em meados dos anos 90, me inscrevi para uma prova de admissão na escola de belas artes de Curitiba/PR, oportunidade em que eu iria fazer um teste para o 4º ano do curso de piano. Lembro-me que eram três etapas: prova prática, prova teórica e solfejo. Não importa. Eram três dias de prova.

Sem querer invadir muito a área da música, me lembro que na época o Seu Berlin ficou incumbido de me levar aos locais onde seriam realizadas as provas.

No primeiro dia, prova prática, tudo corria bem. Ele me deixou no local e, quando voltou, eu permanecia imóvel, na mesma posição. “E daí, tchê! Já fez a prova?” Eu respondi que ainda não havia sido chamado. Eis que surge uma senhora e diz com veemência: “Como não foi chamado? Disseram seu nome várias vezes!!!” Imediatamente se iniciaram os xingamentos ininteligíveis para minha pobre mente simplória à época. Graças a tática militar (e teimosia) de Seu Berlin, consegui realizar essa prova.

No outro dia, o vô designou o Sr. Cephas par que me conduzisse à prova. No entanto, atordoado pelo dia anterior, acabei indicando o local errado. Sr. Cephas, isento de qualquer culpa, me deixou no local que eu solicitei e caiu fora. Como tinha tempo, resolvi seguir à pé até o endereço correto. Mas tenho problemas em Curitiba. Meu senso de direção quase sempre me conduz até o museu ferroviário. Seu Jair, como sempre, tentou me explicar como chegar ao lugar. Andei, me perdi, andei mais um pouco até que achei um orelhão. Liguei para vó dizendo que estava na Rua “Wertsthläffën” (???). Foi o que eu havia entendido do taxista mal-humorado. No fim das contas, eu estava a meia quadra do endereço da prova, com tempo de sobra. Mas a vó acabou transmitindo meu desespero para o Seu Berlin, que acabou tendo que sair de seu labor para conferir se eu havia chegado. Ao sair da prova, obviamente tive que ouvir, ou melhor, aprende mais algumas palavras.

Nesse ponto da prova, gostaria de fazer uma ressalva. A maré de azar era tanta, que em uma das questões, onde é feito um “ditado musical”, minha prova continha o gabarito, talvez por equívoco dos organizadores. Assim que avisei a professora que aplicava a prova, ela determinou que se fechassem todas portas e janelas. Ninguém entrava nem saía. “Chamem o Marco!”...todos os colegas: “ooooooohhhhhh!!!! Mandaram chamar o Marco!!!” tudo por minha culpa. Fui encaminhado à uma sala de interrogatório. Após algumas indagações, pude ouvir Marco dizendo a um aspone: “Levem-no daqui. Esse goiano está no lugar errado na hora errada!”. Assim que voltei a sala para concluir a prova teórica, meus colegas, que já haviam feito toda a questão do ditado e precisaram fazer novamente, me olharam torto. Apesar de tudo, só faltava o solfejo, no último dia de prova.

Para que não sabe, solfejar é cantar as notas no tom e no tempo correto, obedecendo ao disposto na partitura. Dessa vez cheguei no lugar certo, um pouco antes do horário, e conferi meu nome na lista de ordem. Parece que nunca aprendo. Depois de tudo que ocorreu, eu deveria chegar atrasado, para evitar meus colegas. Logo que adentrei, um gritou: “Vejam, é o surdo (do 1º dia) sabotador da prova (do 2º dia)!”. Me senti como o finado brasileiro Jean Charles prestes a levar um balaço no metrô de Londres. Mas, enfim, fiz a prova e me mandei rapidamente, aproveitando a escolta de uma senhora gorda.

Não fui aprovado no exame, embora tenha ficado em boa colocação. Mas a experiência e as palavras que aprendi com Seu Berlin estão na memória.

Alguns dias depois, eu viajei para São Bernardo do Campo, para visitar tios e primos. Mas essa é outra memorável história.

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