Friday, August 18, 2006

Pneu

Acusam alguns a sorte de não se valer do provável para atingir o impossível. Assim é também com o azar. É com muito custo que posto algumas situações pessoais que particularmente prefiro esquecer. Porém uma quantidade recorde de e-mails chegou à redação do blog (uns dois) e assim preferi atender a pedidos tão encarecidos. Mesmo porque me recuso terminantemente a escrever sobre a vitória colorada.

O palco é algum ponto do trajeto Curitiba-Dourados. Travessia árdua, conduzida com parcial maestria por Marcelo, um dos integrantes da aventura. O outro desafortunado era eu mesmo. Completando a trupe, seu Berlin e vó Nair.

Fomos destacados, Marcelo e eu, para efetuar o resgate de seu Berlin et al que já não mais poderia conduzir seu veículo a tais distâncias. Tudo corria bem até determinada localidade, seu Berlin mandando todos os caminhoneiros "pros quinto" enquanto Marcelo ria e tentava achar algum asfalto em meio aos buracos. Eis então que, de maneira súbita, o carro entra em uma cratera no asfalto. Imediatamente ouvimos um ruído aterrador. Permitam-me a onomatopéia: toc, toc, toc e a cada volta do pneu um novo toc.

Seu Berlin vai ao delírio e começa a declamar com inigualável verborragia: paquiderme, guinú, lontra, mastodonte, dromedário, camelo de uma corcova, cachalote, etc. A tensão toma conta. Algo precisava ser feito. Em meio a tal alarido paramos o carro para trocar o bendito pneu. Tal tarefa foi imediatamente incumbida a mim que a essa altura já não compreendia mais nenhum vocábulo de seu Berlin, considerando-o verdadeiro neologista.

Pois bem, olhei os quatro pneus e pasmem... todos em perfeito estado. Devia ser uma bolha interna causada pela batida mas era impossível localizar. Seu Berlim cada vez mais exaltado já mudava o foco dos "elogios" atingindo-me a torto e a direito. O tempo passava, o drama aumentava e seu Berlin deu um ultimato, então: o traseiro direito! Gritei, ou melhor arrisquei.

Conturbado pela situação chutei qualquer pneu, pensando apenas na possibilidade de acerto de 25%. Entretanto nesses casos deve-se sempre pensar em 75% de chance de erro. Já era tarde demais. Após o reinício da jornada, imediatamente após aliás, tudo recomeça: toc, toc, toc e mais toc. Seu Berlim, vira-se e literalmente congela-me com um olhar pouco amigável. Dali até o borracheiro mais próximo nada posso lembrar. Algum mecanismo cerebral natural desativou minha audição.

Depois, após até mesmo o borracheiro ter tirado uma casca dizendo que nem mesmo lá (uma borracharia de beira de estrada) eu teria emprego, reiniciamos. Obviamente nunca torci tanto para que nenhum pneu se avariasse. O acontecido é antigo, porém a sequela resiste até hoje. Desde aquele dia não pude mais tocar em qualquer forma de borracha compactada e na escola, adaptei-me a usar caneta. Se errava, era preferível borrar a passar a borracha.

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