Thursday, June 29, 2006

Quem é o mentor?

Mentor era um personagem coadjuvante dos desenhos de He-Man. Além de capacho, aspone, escudeiro e camareiro do herói, geralmente era ele, com sua cara de Nigel Mansell, quem orientava o caminho na perseguição dos inimigos.

Mas certa vez, eu, Canhoto e Negão, em plena Curitiba, planejávamos ir ao defasado Shopping Müller. Saímos então do apartamento do vô que, se valendo de sua tática militar, nos orientou a chegar naquele estabelecimento.

Respeitando a hierarquia do mais velho, Negão recebeu as aludidas instruções, sendo, portanto, o mentor.

Após andar algumas quadras, virar em algumas esquinas, contornar algumas praças, estávamos chegando... chegando no parque Bariguí! Pudemos ver de longe os pedalinhos e as senhoras alimentando as galinhas d’água.

Numa breve votação, eu e o Canhoto depusemos o Negão do cargo de mentor, o qual eu assumi com a promessa de chegar rapidamente no Shopping.

Mais alguns muitos passos na direção oposta e, de forma surpreendente avistamos... uma locomotiva? Eu havia sonegado essa informação aos meus companheiros. Sempre que eu saia sozinho na capital paranaense eu misteriosamente me “perdia” e chegava no museu ferroviário. Estava tão conhecido por lá que seu Jair, o guarda, já me conhecia. Imediatamente sofri o impeachment.

O problema é que, pelo sistema de rodízio, o cargo de Mentor seria herdado pelo Canhoto. Sua descendência do extremo ocidente da hispânia nos assustava um pouco. Mas naquela hora o desespero já mostrava seus sinais e a hierarquia do mais velho nada valia, afinal, estávamos mais perto de Colombo do que de nosso destino.

Saímos em marcha, sendo o Canhoto o mentor. Após uma rápida caminhada, estávamos chegando numa praça. Cruzamos a Marechal Deodoro, a Marechal Floreano, Rua das Flores, etc... Sentíamos que estava perto... mas o cansaço nos obrigou a ligar para o vô de um orelhão. Sendo o mentor interino, Canhoto fez a ligação da derrota, já que tínhamos uma missão e as coordenadas para cumpri-la.

O vô atendeu e logicamente nosso bravo mentor teve que ouvir algumas delicadezas do QG. Quando o Canhoto conseguiu explicar onde estávamos, pudemos os três ouvir pelo telefone o vô dizendo: “mas tchê, olha pra cima! Vocês tão na frente do Müller!!! Seus animais, gnus, paquidermes, miriápodes, lorpas...”

Finalmente alcançamos nosso destino. Após muito andar e nada comprar, decepcionados com o antigo Shopping, fizemos o trajeto de volta. A refeição foi no “Chapa Quente – Pão com bife e ovo frito + copo de suco = R$ 1,00”. Parabenizamos alguns calouros da UFPR que haviam sido aprovados no vestibular para Geografia. Qualquer pretexto era aceitável para retardar nossa chegada ao apartamento do vô. De nada adiantou. Chegamos lá e ouvimos mais um sermão.

O trânsito de Curitiba não favorece muito os visitantes. Nunca esqueço quando meu pai, num dia muito nublado, ligou para o vô avisando que estava perdido em frente a um lava-rápido. Na verdade ele estava quase em frente ao prédio do vô, que logo apareceu de bermuda e camisa cavada, com o chimarrão na mão: “mas tchê, tu ta em frente de casa!”.

Aprendemos todos uma lição. Da próxima vez? “táxi! Shopping Müller, por favor”.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

hehehe po sancho, dessa vez você abriu a caixa preta... hehehehe lembranças ao seu Jair.

6/29/2006 9:14 AM  

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