Monday, October 01, 2007

Merda pra quem te quero

Ao final da graduação tive a oportunidade de "rachar" um ap com duas meninas. Formaríamos umarepública mista e, visto que eu pagaria muito mais barato, aceitei logo o convite. No começo eu tinha uma certa tensão, as coisas poderiam não ser muito tranquilas e tal. Mas passado algum tempo vi que meus receios nada tinham de válidos. Era muito tranquilo morar lá, e muito mais limpo e cheiroso. Algumas repúblicas minhas anteriormente eram mais parecidas com um "bunker". Com direito a plantas crescento nos entremeios de azulejos e talheres com iniciais pra que ninguém roubasse. Certa vez, num desses acampamentos tivemos uma reunião séria a respeito do cheiro fétido da geladeira e lá pelas tantas um disse: ou limpamos essa desgraça ou jogamos fora tudo que está lá. Bom, efetivamente jogamos tudo fora. Era mais fácil começar do zero.

Assim sendo, minha nova moradia era perfeita. Tranquila, silenciosa, limpa e sem cenas bizarras como um marmanjo andando de zorba pela casa e coçando a bunda domingo de manhã. Enfim, incomparavelmente melhor. À época, eu era frequentador assíduo do RU, o restaurante universitário (carinhosamente apelidade de CarandiRU). Usualmente trabalhava no laboratório de manhã e tinha aulas de tarde. Uma vez porém ao sair do RU senti uma pontada que começava no estômago e terminava em desespero. Algo da comida não havia caído bem. Ou melhor, algo havia caído bem, o resto estava lutando para sair. Lembro-me até hoje do cardápio: arroz cascudo, feijão preto, carne de panela (que desafiava a dureza das facas) e um pudim gelatinoso de cor verde abacate e gosto de abacate verde.

Sem titubear comecei a andar rapidamente pra casa. O caminho foi sofrível. Calor, dores intestinais, cólicas, aquelas intermináveis quadras e uma crescente sensação de que ia me borrar a qualquer momento. Fui resistindo bravamente. As meninas que moravam lá, ambas, faziam faculdade de turismo e estudavam de tarde, logo meu consolo era que assim que chegasse em casa teria todo conforto e liberdade do lar para expelir aquela coisa de mim. Subi as escadas do prédio com destreza e rapidez, apanhei as chaves do bolso e fui abrindo a porta numa espécie de cegueira psicodélica, típica dos desesperados. E então... logo que abri a porta, eis que me encontro na presença, não só das duas meninas, mas também de um bando de amigas, colegas de curso. Meio sem saber o que fazer perguntei um tanto quanto nervoso o que elas estavem fazendo lá. Disseram que estavam fazendo um trabalho, ou sei lá. Aliás não lembro de muita coisa. Recordo de ter que disfarçar um pouco minha vontade de correr pra privada mas efetivamente não lembro nem do que falei, tamanho era meu desespero.

Uma hora porém não deu mais e corri pro banheiro, arremessando a mochila a um canto. Sentei na privada tenso, segurando o máximo para que o barulho não me delatasse. Havia um certo ruído da conversa das meninas lá fora e fui tomando confiança. Porém, bastou uma leve afrouxada da musculatura vocês sabem de onde e pronto... foi como um morteiro! Uma explosão tão alta que pensei ter rachado parte da privada. Foi daquele tipo que espalha merda por tudo mas mantém a água intacta. E agora o pior: como disse, quando entrei no banheiro havia aquele barulho de conversa contínua e tal, mas assim que o jato foi expelido ouvi um silêncio sepulcral! Súbito! Seguido por uma leve e nervosa risada. A máscara havia caído. Não dava mais pra disfarçar. A partir dali a coisa só piorou, assim como o cheiro. Depois de consumado o ato, tomei um banho demorado, escovei os dentes, enfim demorei bastante pra ver se esqueciam que eu uma vez havia estado ali e também, de uma forma inconsciente, estava realizando todos os rituais de higiene possíveis.

Enfim sai rapidamente e fui pro meu quarto, onde me tranquei até que não pudesse mais ouvir uma voz sequer. Depois disso, tudo voltou ao normal. Ou quase tudo. Por exemplo, nunca mais fizeram trabalho juntas lá em casa e embora eu seja relutante em traçar alguma relação de causa e efeito com o ocorrido, confesso que foi melhor assim. Afinal, o RU frequentemente presenteava seus comensais.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Muito boa essa, Braneiro!

10/05/2007 10:58 AM  

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